Ron Gilbert, criador da icônica série Monkey Island, não pretende retornar à produção de aventuras em 2D. Ele acredita que esse estilo de jogo se tornará obsoleto com o tempo.
Mesmo tendo lançado títulos recentes nesse formato, como Return to Monkey Island, Gilbert agora busca abordagens mais modernas e inovadoras para o gênero.
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Mudança de direção criativa
O que motivou essa mudança parece ser tanto um olhar crítico para o passado quanto um interesse em possibilidades técnicas do presente. Em entrevista ao Ars Technica, o veterano desenvolvedor comparou os adventure games baseados em comandos como “usar” ou “pegar” a filmes mudos em preto e branco. Para ele, esses formatos, apesar de nostálgicos, já não refletem a experiência desejada por grande parte do público atual.
Gilbert vê um claro declínio no interesse geral por aventuras point-and-click tradicionais, ainda que reconheça que existe uma minoria jovem que as aprecia. Contudo, ele sugere que essas experiências, embora tenham validade histórica, estão fadadas à extinção: “quando estivermos todos mortos, provavelmente esse tipo de jogo não será algo que sobreviverá”, declarou.
Perspectivas para o futuro do gênero
Apesar de sua postura crítica, Gilbert não se afastou completamente do gênero. Ele cita o título Lorelei and the Laser Eyes, do estúdio Simogo, como exemplo de inovação no campo das aventuras narrativas. A obra traz uma ambientação surreal com quebra-cabeças intrincados e visual estilizado em preto e branco, utilizando o espaço 3D de maneira criativa.
Em vez de retomar a fórmula point-and-click clássica, Gilbert afirma que hoje ele se inspira mais em criar algo como Monkey Island em um mundo tridimensional, onde a resolução dos enigmas e a exploração ocorram em ambientes volumétricos reais. A grande curiosidade dele agora é desvendar como implementar mecânicas típicas de puzzles nesse novo contexto imersivo.
Retorno recente às origens
Vale lembrar que a Terrible Toybox, estúdio fundado por Gilbert, lançou dois jogos no estilo clássico nos últimos anos: Thimbleweed Park e Return to Monkey Island. Ambos foram bem recebidos pela crítica, mas ainda assim não pareceram convencer totalmente o criador sobre a arquitetura de seu design. Mesmo em um cenário onde títulos como Old Skies, Loco Motive e The Drifter encontram espaço entre nichos, Gilbert permanece cético quanto à viabilidade a longo prazo desses formatos.
A maioria desses lançamentos não atingiu grande sucesso comercial — com exceção moderada de The Drifter — e isso contribui para a visão do designer sobre a falta de fidelidade do público em massa aos adventure games tradicionais.
Novos caminhos para o lendário criador
Atualmente, Gilbert está envolvido em um projeto diferente: Death by Scrolling. Trata-se de um jogo de ação em 2D onde o jogador precisa escapar da Morte subindo continuamente pela tela. O conceito surgiu a partir de uma ideia mais ambiciosa de RPG inspirado em Zelda, que acabou cancelado por falta de financiamento adequado. Segundo ele, os moldes impostos por editoras para produtos de grande escala inviabilizaram o desenvolvimento do projeto.
O lançamento de Death by Scrolling sinaliza uma reorientação criativa baseada em praticidade e exploração de gêneros mais acessíveis para produções independentes. A aposta de Gilbert, portanto, parece ser buscar inovação dentro das limitações, adaptando-se às exigências do mercado atual.
O legado das aventuras clássicas
Apesar da recusa em continuar produzindo no estilo que o consagrou, a contribuição de Ron Gilbert para os adventure games é duradoura. Jogos como The Secret of Monkey Island seguem como referência histórica para construções narrativas no meio digital. Ainda há um público fiel que consome e reverencia esse tipo de experiência — mesmo que pequeno, esse grupo se mostra engajado.
Resta observar como evoluirá o gênero das aventuras nos próximos anos e se a visão de Gilbert de um cenário 3D mais dinâmico se consolidará como o novo padrão para experiências narrativas digitais. Seja com nostalgia ou inovação, seu trabalho continua a inspirar desenvolvedores em todo o mundo.
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