The Last of Us: episódio resgata emoções e conflitos profundos

Com a direção de Neil Druckmann, o novo episódio de The Last of Us resgata a essência emocional que definiu a primeira temporada. A profundidade dos personagens e o peso das relações ganham novo fôlego numa narrativa que volta a valorizar a humanidade por trás da brutalidade.

Ainda que chegue tardiamente, o capítulo oferece momentos comoventes e bem construídos, mas não consegue apagar as falhas estruturais da segunda temporada.

O reencontro com o emocional de Ellie e Joel

A narrativa da série recorre a flashbacks para relembrar a força do vínculo entre Joel e Ellie, devolvendo nuances emocionais que haviam se perdido. Momentos como a visita ao museu e as conversas carinhosas — ora tensas, ora divertidas — reforçam a dinâmica de pai e filha que sustentou a primeira parte da trama.

Esse retorno emocional também serve para contextualizar a dor de Ellie e justificar sua jornada de vingança, fragmentada ao longo da temporada. A ausência desse aprofundamento até o episódio em questão tornava a personagem emocionalmente deslocada, afetando o tom do roteiro que deveria sustentar sentimentos como culpa, raiva e arrependimento.

Druckmann surpreende ao trazer mais densidade ao protagonista Joel, ao mostrar não só o heroísmo, mas também suas escolhas duvidosas. O momento em que ele repete o ensinamento do pai sobre "fazer melhor" carrega um simbolismo forte, evidenciando os ciclos familiares e morais que a série busca discutir.

A última conversa entre os dois funciona como um ponto de ruptura e ao mesmo tempo de entendimento. Adaptada com fidelidade do jogo, essa cena ganha brilho com acréscimos no roteiro que ampliam seu impacto dramático.

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Dina, Seattle e uma Ellie quase irreconhecível

Apesar do saldo emocional positivo no episódio, a segunda temporada apresenta uma oscilação nítida na narrativa, especialmente com a chegada a Seattle. A ambientação e os conflitos da nova fase destoam da qualidade do enredo anterior. Ellie, após a morte de Joel, deveria representar uma figura fraturada e instável, o que raramente é transmitido com coerência no roteiro.

Essa leveza quase juvenil afasta o espectador da carga emocional necessária para justificar a perseguição sangrenta dos eventos seguintes. A personagem de Dina surge como o fio condutor que tenta reintroduzir Ellie ao foco da trama, mas os problemas de tonalidade persistem.

Outro ponto problemático é o empobrecimento da escrita no que se refere à construção dos vilões e coadjuvantes. Os conflitos se tornam menos sobre dilemas humanos e mais sobre sequências de ação ou polarizações rasas.

Ainda assim, há mérito em como Druckmann introduz novas camadas a personagens apenas mencionados nos jogos, como Eugene e Gail. Eles não são necessariamente centrais, mas oferecem interações que geram reflexões sobre empatia, proteção e confiança, valores emocionais que pareciam esquecidos nas últimas semanas.

Erros adaptativos e ausência de elementos vitais

A transposição do universo do game para a televisão apresenta desafios, e nem todos foram superados. Embora a série já tenha sido celebrada pela fidelidade ao material original, a segunda temporada falha ao omitir ou simplificar elementos que definem a complexidade narrativa da franquia.

O grupo dos Vaga-lumes — essencial para o destino de Joel e o início do conflito com Abby — aparece de forma superficial. A falta de contundência no desenvolvimento desse núcleo enfraquece a base do roteiro e deixa em aberto motivações importantes para os próximos conflitos.

Enquanto isso, os infectados perdem espaço em meio ao conflito humano. Apesar de sua presença em alguns momentos icônicos, como o detalhe nos olhos dos Espreitadores, a ameaça fúngica perde o impacto simbólico e literal. A história caminha para um drama interpessoal que, embora profundo, esquece o pano de fundo apocalíptico que contrasta e reforça as decisões morais dos personagens.

Sequências essenciais do jogo, como o trauma crescente de Ellie e seus gatilhos emocionais constantes, são tratados de maneira branda. Isso compromete o tom realista que a obra sempre propôs. Ellie, sendo uma garota que carrega cicatrizes físicas e psicológicas, não pode ser retratada com leveza excessiva.

Conflitos humanos e o retorno ao essencial

O episódio brilha ao lembrar que The Last of Us não fala apenas sobre sobrevivência. Fala sobre amor, arrependimento, ressentimento e, principalmente, sobre as difíceis decisões tomadas em nome de alguém que se ama. A dualidade moral dos personagens retorna com força, trazendo de volta o debate que acompanha os fãs desde o primeiro jogo: até onde você iria por alguém?

A direção aposta em silêncios e gestos sutis para transmitir o abismo que se forma entre Joel e Ellie. Essa abordagem segura reforça elementos que muitas vezes escapam ao olhar desatento, como o simbolismo entre as escolhas do passado e seus reflexos no presente.

Mesmo com seus tropeços, a série retoma o tom emocional que a destacou como uma das mais bem-sucedidas adaptações de videogames da história. Ainda há inconsistências, mas a condução de Druckmann sugere que há compreensão genuína da alma da obra original.

Se a temporada não foi forte o suficiente até aqui, este episódio ao menos demonstra que o time criativo ainda sabe o que faz de The Last of Us tão memorável: relações humanas, imperfeitas e atravessadas por amor e violência. A expectativa, agora, é pelo momento em que Abby entrará definitivamente em cena com a profundidade que o arco exige.

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