Segunda temporada de The Last of Us decepciona com falta de emoção

A segunda temporada de The Last of Us começou com expectativas elevadas após o sucesso da primeira, que conseguiu adaptar com fidelidade e emoção os principais elementos narrativos do jogo original. A promessa de uma continuação intensa, marcada por tragédias e dilemas morais profundos, antecipava uma temporada tão impactante quanto o segundo game da franquia.

No entanto, conforme os episódios avançaram, a série perdeu força narrativa. A complexidade emocional de Ellie, o peso da vingança e a dualidade dos personagens foram em grande parte substituídos por escolhas de roteiro que diminuíram o impacto da trama.

Temporada começa com promessas, mas logo se fragmenta

Logo no início, a temporada sugere que manterá o mesmo tom maduro e tenso com a morte de Joel, um momento crucial que molda a jornada de Ellie no jogo. No entanto, ao dividir esse evento com o ataque a Jackson, a série desperdiça parte da carga dramática. O impacto individual da perda de Joel se dilui ao ser compartilhado com uma tragédia coletiva que tira o foco da protagonista.

Essa escolha narra uma Ellie menos traumática, mais equilibrada emocionalmente e até mesmo irreconhecível em alguns momentos. A tensão interna que move a versão da personagem nos jogos, assolada pela dor e pelo desejo de vingança, dá lugar a uma jovem que parece ter superado a tragédia com rapidez. Isso prejudica não só o papel de Ellie como protagonista, mas enfraquece as decisões subsequentes na trama.

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Construção de Ellie esvaziada altera a essência da personagem

Diferentemente da figura emocionalmente devastada do jogo, a Ellie da série parece emocionalmente contenida, mesmo quando confrontada com a chance de se vingar. Apesar da excelente atuação de Bella Ramsey, o roteiro não trabalha de maneira convincente o trauma da personagem; a dor se transforma em apatia e o ódio em indiferença.

Mesmo em momentos importantes, como a morte de Nora, a condução emocional é rasa. Esperava-se que essa cena fosse um ponto de ruptura, mostrando a degradação moral de Ellie, mas seu arco permanece sem a densidade emocional necessária. A tentativa de compensar isso por meio de Dina – atribuindo a ela a motivação emocional perdida por Ellie – desequilibra ainda mais a construção da protagonista, tornando Dina o verdadeiro centro da temporada.

Dina ganha destaque enquanto relação eclipsa o drama

A relação entre Ellie e Dina é um dos pontos altos da temporada em termos de representatividade e construção afetiva. A química entre as personagens é palpável, e Isabela Merced entrega uma performance consistente e marcante. No entanto, a ênfase demasiada nesse relacionamento ofusca o eixo emocional da história.

A cena da descoberta da gravidez, por exemplo, que nos jogos representa um confronto entre desejo de vingança e responsabilidade, se transforma em uma sequência melodramática sem peso emocional. O momento em que Ellie brinca com a ideia de ser pai é representativo do desvio de tom em relação ao jogo original, onde o drama psicológico domina as ações dos personagens.

Relevância emocional retorna pontualmente, mas não sustenta a temporada

O sexto episódio marca uma virada temporária na temporada. Com foco em flashbacks e na retomada das discussões que tornaram The Last of Us uma obra impactante, o episódio emociona e traz de volta o tom moralmente ambíguo característico da franquia. A presença mais ativa de Neil Druckmann na construção do episódio parece ter sido determinante para esse resultado.

Contudo, essa recuperação chega tarde demais. A essa altura, a conexão emocional com Ellie já está desgastada. A ideia central de The Last of Us Parte 2 – a espiral de vingança – perde sua força ao não convencer que Ellie realmente deseja se vingar. Sem isso, toda a trajetória da personagem se torna questionável, carente de sentido dramático.

Perdas narrativas e atuações que tentam salvar a temporada

Apesar dos vacilos de desenvolvimento, o elenco continua sendo um dos maiores trunfos da série. Bella Ramsey oferece momentos convincentes mesmo quando o roteiro não os favorece. Kaitlyn Dever, como Abby, aparece pouco, mas sua performance já sugere que será uma figura convincente na próxima temporada.

Por outro lado, os ajustes feitos em personagens como Tommy reduzem o impacto de algumas viradas narrativas. Agora um líder pacifista que lida com a perda à distância, ele deixa vaga a posição de mentor emocional ou agente da trama, criando lacunas que o roteiro não consegue preencher. Jesse e outras figuras secundárias também ganham mais destaque que o necessário, contribuindo para a dispersão do foco central.

Falta de foco prejudica elementos centrais da trama

Ao tentar ampliar os pontos de vista, a série se afasta do que realmente move The Last of Us Parte 2: as consequências devastadoras da violência e a complexidade dos laços humanos. A ausência desses fatores enfraquece os momentos decisivos e torna o arco de Abby menos promissor, já que seu futuro como protagonista requer equilíbrio emocional com os eventos passados de Ellie.

Nesse panorama, a série mostrou não entender completamente os fundamentos da obra original. Dilemas como “até onde vai o desejo por justiça?” ou “qual o preço do perdão?” — centrais no jogo — foram relegados a discussões superficiais ou mal posicionadas na narrativa televisiva.

Uma temporada que emociona menos e divide mais

No fim, a segunda temporada da série de The Last of Us é visualmente impecável, artisticamente ambiciosa, mas narrativamente frágil. As atuações elevam o padrão de produção, mas não são suficientes para sustentar o peso emocional que a adaptação exige. O que se vê é uma obra que, mesmo fiel em alguns elementos, falha em traduzir o que realmente tornou o jogo inesquecível.

Se no videogame sentir ódio, dor, amor e remorso faz parte da experiência essencial do jogador, na série esses sentimentos aparecem tímidos e desconectados. O melhor que se pode dizer é que, assim como o jogo, a série conseguiu dividir opiniões – mas por motivos bem diferentes.

Boa parte da essência de Ellie se perdeu, e com isso, a base emocional da narrativa foi comprometida. Resta à terceira temporada reverter esse cenário, com Abby como nova protagonista e esperanças de que a profundidade emocional dos jogos finalmente encontre espaço digno na adaptação televisiva.

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