O encerramento de Neon Genesis Evangelion teve um impacto devastador em seu criador, Hideaki Anno. Envolvido profundamente com o processo criativo, ele terminou a série completamente esgotado e emocionalmente debilitado. A resposta negativa por parte de alguns fãs ao final do anime também contribuiu significativamente para o agravamento de sua saúde mental.
Na tentativa de lidar com essa crise, Anno recorreu à ajuda médica. Contudo, ele acabou se frustrando com a abordagem simplificada do tratamento, que se limitou a uma receita, sem qualquer conversa terapêutica mais profunda.
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Impacto da produção de Evangelion sobre Anno
A produção de Neon Genesis Evangelion, lançada entre 1995 e 1996, foi extenuante tanto física quanto psicologicamente. Hideaki Anno mergulhou em temas complexos como trauma, ansiedade e depressão — muitos dos quais baseados em sua própria experiência pessoal. No entanto, o desgaste acumulado ao longo da série parece ter cobrado um preço ainda maior após a exibição dos episódios finais.
O último episódio da série gerou um misto de incompreensão, frustração e críticas do público, o que só reforçou o estado emocional instável de Anno. Ele revelou que recebeu inúmeras cartas de fãs revoltados — o que, longe de trazer reconhecimento artístico, resultou em mais angústia e autoquestionamento.
Esse ambiente tóxico, aliado ao cansaço extremo, empurrou o criador para um colapso mental. Conforme declarou em entrevista, ele se sentiu "quase mentalmente destruído" após concluir a série — uma frase que resume a profundidade do impacto que Evangelion teve em sua saúde.
Frustração com a psiquiatria tradicional
Buscando apoio psicológico, Anno se dirigiu a um psiquiatra com a expectativa de iniciar um diálogo profundo sobre suas dificuldades. Tinha esperança em um modelo de terapia da fala, onde pudesse explorar seus sentimentos e reflexões através de conversas significativas.
Entretanto, o que encontrou foi um sistema de tratamento extremamente burocrático e superficial. Segundo relatou, o profissional médico limitou-se a prescrever medicamentos, frustrando suas expectativas de apoio humano e compreensão. “Aquilo foi tão chato. Eu esperava ter uma boa conversa”, desabafou Anno ao relembrar esse episódio.
A insatisfação com a abordagem médica reforça um problema mais amplo: a falta de estrutura para acolher criadores e artistas em crise emocional, dentro e fora do Japão. Seu relato expõe não só uma jornada pessoal difícil, mas também uma crítica à forma como distúrbios psíquicos são tratados quando se espera apenas a solução farmacológica.
A solidão do autoacolhimento
Diante do fracasso em encontrar um suporte terapêutico significativo, Hideaki Anno acabou recorrendo a um processo de cura interno. Sem deixar claro o método exato, afirmou que foi sua própria energia e força de vontade que o levaram ao enfrentamento de sua condição.
"Superei a neurose com ela", declarou, em referência à sua disposição pessoal. Essa trajetória solitária de restauração do equilíbrio mostra um lado ainda mais sombrio do processo criativo no Japão, especialmente no mundo da animação, onde rotinas desgastantes são comuns.
Esse relato ecoa outras falas de profissionais da indústria de anime, que frequentemente denunciam jornadas exaustivas e sobrecarga emocional. A experiência de Anno se tornou, assim, um retrato sincero da vulnerabilidade por trás das grandes obras de arte.
Pressão da indústria de animação japonesa
O peso que recai sobre os diretores e estúdios de produção no Japão tem sido amplamente debatido nos últimos anos. O próprio Hideaki Anno voltou a se pronunciar sobre o assunto ao comentar a atual crise que afeta a indústria de animação japonesa, marcada por adiamentos e instabilidade.
Em declarações recentes, ele afirmou que “muitos animes estão sendo adiados atualmente” e apontou a urgência de um plano de apoio governamental voltado aos animadores e estúdios. Essa fragilidade estrutural contribui diretamente para o adoecimento de criadores, que enfrentam prazos agressivos, demandas irrealistas e orçamentos limitados.
Anno transformou sua dor e esgotamento em arte. No entanto, sua história mostra que o preço da genialidade pode ser alto demais quando a saúde mental é colocada em segundo plano. A experiência traumática vivida ao fim de Evangelion serviu como alerta para as limitações do suporte médico no Japão e a necessidade de um cuidado mais humano com criadores que influenciam gerações inteiras.
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