"Bandersnatch", o episódio interativo da aclamada série Black Mirror, deixará o catálogo da Netflix no dia 12 de maio. A decisão encerra um dos experimentos mais ousados do serviço de streaming, que apostou em narrativas interativas no auge da proposta de gamificação da plataforma.
A justificativa oficial é que a tecnologia empregada "serviu ao seu propósito", conforme declarou um porta-voz da Netflix. Ainda assim, a remoção causa estranheza, considerando o impacto e a singularidade do episódio dentro do universo Black Mirror.
O que você vai ler neste artigo
O impacto de Bandersnatch
Lançado em 2018, Bandersnatch marcou uma virada na forma como a televisão poderia ser consumida, oferecendo uma experiência interativa inédita. O espectador assumia o papel de protagonista da trama, decidindo os rumos da história de Stefan, um jovem programador que tenta adaptar um livro perturbador em um jogo de computador.
O episódio se destacou por proporcionar múltiplos finais – cinco principais e várias variações – dependendo das escolhas feitas ao longo da jornada. Ambientado nos anos 1980, o contexto retrô e a atmosfera paranoica ampliavam a imersão numa história com ecos de distopia psicológica e crítica social.
A aposta em narrativas interativas
Bandersnatch foi parte de uma iniciativa mais ampla da Netflix, que também incluiu títulos como Minecraft: Story Modee Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs. the Reverend. Com tecnologia baseada em ramificações de escolhas, esses especiais permitiam ao usuário tomar decisões em tempo real, alterando os desfechos.
Porém, a complexidade técnica envolvida — desde o desenvolvimento até a entrega da experiência interativa via streaming — pode ter sido um fator relevante no abandono gradual do formato. No ano passado, a Netflix já havia removido a maioria dos seus conteúdos interativos, restando apenas quatro episódios no catálogo.
Conforme explicou Chrissy Kelleher, representante da plataforma, a tecnologia passou a ser vista como um limitador no contexto atual, tendo "servido ao seu propósito" e dando espaço para outras abordagens de inovação dentro do serviço.
Mudança de foco para jogos tradicionais
Nos últimos meses, a Netflix tem redirecionado seus esforços para o setor de jogos mobile. Títulos como Monument Valley, The Golden Idole até mesmo o recém-lançado Thonglets— baseado no episódio Playthingda 7ª temporada de Black Mirror — passaram a compor o portfólio do serviço, agora focado em jogos disponíveis para download.
Essa mudança sinaliza uma transição da interatividade dentro dos episódios para experiências paralelas, mas ainda vinculadas às histórias vistas na plataforma. Em Plaything, por exemplo, é possível testar um simulador inspirado diretamente na narrativa apresentada no seriado.
Um legado experimental
Ainda que esteja saindo da Netflix, Bandersnatch deixa uma marca inegável na história da televisão digital. Explorando temas como livre-arbítrio, obsessão e manipulação, o episódio não apenas se destaca pelo seu formato, mas também pela profundidade da crítica que oferece — fiel ao DNA de Black Mirror.
A decisão de remoção pode decepcionar fãs e estudiosos da mídia interativa, mas também evidencia a constante transformação do modelo de negócios da plataforma, que agora parece apostar em um novo caminho para unir entretenimento e jogos.
Leia também:
- Adolescência destruída: série de sucesso da Netflix baseada em fatos reais
- Amizade de Hayden Christensen e Rosario Dawson começou antes de Star Wars
- Análise de Black Mirror temporada 7
- Andor temporada 2: início marcado por tensão crescente
- Animador critica duramente o som de One Piece
- Anime de ficção científica encontra desafios na Netflix
- As maiores dificuldades de Kishimoto ao criar Killer Bee
- As principais mudanças de The Last of Us do jogo para a série