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Primeira civil cruza a DMZ entre as Coreias em 2002

Poucos imaginariam que uma atriz reconhecida por seus papéis emocionantes na televisão também tivesse vivido uma das experiências mais tensas e simbólicas da história das Coreias. Em 2002, aos 10 anos, Park Eunbin participou de um ato que percorreu as fissuras da guerra e da política internacional.

A jovem se tornou a primeira civil a cruzar a Zona Desmilitarizada (DMZ), um dos territórios mais perigosos e vigiados do planeta, em uma cerimônia que simbolizou a reaproximação entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte.

Um evento histórico e simbólico

A travessia, realizada durante uma cerimônia de reabertura da linha ferroviária Gyeongui, foi cuidadosamente orquestrada para simbolizar a união entre as Coreias após décadas de conflito. Park Eunbin representava uma menina norte-coreana que atravessava a DMZ para encontrar um garoto sul-coreano. A escolha de uma criança para o papel central não foi aleatória: a inocência infantil dava um peso maior ao apelo à paz e à reconciliação.

Por mais que o evento fosse simbólico, o risco era real. Conforme relatado pela própria atriz em uma entrevista ao programa sul-coreano Happy Together, a travessia foi marcada por tensão extrema. Na época, vastas áreas ainda estavam contaminadas por minas terrestres da Guerra da Coreia, e alertas rigorosos de segurança foram repassados à equipe envolvida.

“Naquela época, as minas terrestres ainda não tinham sido removidas. Então, me disseram para ter muito cuidado, porque o menor contato poderia causar uma explosão”, relembrou Park, entre risadas nervosas.

A DMZ: fronteira da tensão permanente

Criada em 1953 após o armistício que suspendeu a Guerra da Coreia, a DMZ é uma faixa de aproximadamente 250 km de comprimento por 4 km de largura que separa os dois países ao longo do Paralelo 38. Apesar do nome “desmilitarizada”, a área é uma das zonas de fronteira mais fortemente militarizadas do mundo, vigiada intensamente por soldados de ambos os lados.

A ferrovia Gyeongui, interrompida desde o início do conflito, cruza diretamente a linha de demarcação. Sua reativação temporária em 2002 representava um raro momento de cooperação e esperança entre Seul e Pyongyang. No entanto, trata-se de uma relação marcada por retrocessos.

Décadas depois do evento, em 2024, a Coreia do Norte voltou a endurecer sua política externa, bloqueando definitivamente a fronteira e explodindo trechos da estrada conectada à ferrovia. O gesto foi interpretado como uma resposta direta às manobras militares conjuntas entre Coreia do Sul e Estados Unidos.

A importância simbólica da participação de Park Eunbin

A escolha de Park Eunbin para o momento não apenas destacou sua atuação precoce, mas consolidou seu papel em um episódio histórico. Sob orientação militar, ela percorreu uma das zonas mais perigosas do planeta. A situação extrema foi lembrada com certa leveza pela própria atriz, mas não é exagero dizer que sua participação carrega um simbolismo raro na cultura popular sul-coreana.

Ao desempenhar esse papel, Eunbin não apenas seguiu um roteiro, mas também entrou para uma narrativa nacional de memória, reconciliação e esperança. Aquela menina que cruzou a DMZ representava muito mais do que uma personagem: era um gesto de humanidade em meio a décadas de tensão militar e ideológica.

Reinício esperançoso, encerramento abrupto

Apesar das boas intenções daquele dia em 2002, a história entre as Coreias continua marcada por instabilidade. A reativação da linha ferroviária foi interrompida novamente em 2024. Com a região mergulhada em nova escalada de tensão, o gesto simbólico de Park permanece como uma memória poderosa de quando a paz parecia possível — mesmo que por um instante.

Enquanto isso, a atriz segue consolidando sua carreira com produções como "O Rei de Porcelana" e "Uma Advogada Extraordinária", mas sua trajetória na DMZ permanece como um dos capítulos mais inusitados de sua vida. Uma experiência singular que entrelaça arte, memória e a história de uma nação marcada pela divisão.