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Autor de The Witcher critica expansão dos jogos sobre escolas de bruxos

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Autor de The Witcher critica expansão dos jogos sobre escolas de bruxos — Andrzej Sapkowski, criador de The Witcher, critica a expansão das escolas de bruxos nos games e reflete sobre reescrever sua obra.

A menção a escolas de bruxo nos livros de The Witcher parecia insignificante quando surgiu pela primeira vez. Andrzej Sapkowski, autor da saga, revelou recentemente que se arrepende amargamente dessa breve referência.

Segundo ele, essa simples frase abriu espaço para uma expansão massiva nas adaptações, especialmente nos videogames da CD Projekt. Hoje, as escolas são parte central do universo da franquia, mesmo contra a vontade de seu criador.

Origem das escolas de bruxo

A única menção original apareceu em “O Último Desejo”, onde Sapkowski usou o termo “Escola do Lobo” de maneira discreta e sem aprofundamento. Anos depois, essa referência se transformou em um pilar importante para a mitologia da série nos jogos.

Para Sapkowski, no entanto, a introdução de facções foi um equívoco narrativo. Em resposta recente feita através de uma sessão de perguntas e respostas na plataforma Reddit, o autor classificou essa escolha como “indigna” e afirmou que considera removê-la em edições futuras da obra.

Expansão feita pela CD Projekt

Com o sucesso da trilogia The Witcher nos videogames, a CD Projekt optou por transformar as escolas de bruxo em um importante elemento do enredo e da construção de mundo. A desenvolvedora polonesa criou ao menos sete dessas facções nos jogos:

  • Escola do Lobo– a qual pertence Geralt de Rívia, protagonista da franquia;
  • Escola do Gato– com métodos mais ágeis e cruéis;
  • Escola do Grifo– focada em magia e disciplina;
  • Escola do Urso– bruxos de armamento pesado e grande resistência;
  • Escola da Víbora– associa-se à furtividade e venenos;
  • Escola da Mantícora– mencionada em expansões posteriores;
  • Escola da Garça– integrada ao sistema por meio do card game Gwent.

Mais recentemente, um teaser de The Witcher 4 exibiu um medalhão inédito, mais tarde identificado como parte da Escola do Lince, até então inexistente na literatura oficial.

Medalhão da Escola do Lince em The Witcher 4Divergência entre autor e adaptação

O distanciamento de Sapkowski em relação aos jogos sempre foi notório. Ainda que os títulos tenham ajudado a popularizar o universo do bruxo Geralt globalmente, o autor tem sido vocal quanto a sua insatisfação sobre mudanças narrativas promovidas pelas adaptações.

Em suas palavras, “nunca mais voltei a mencionar essas escolas”, enfatizando que a ideia não faz parte do cânone que ele considera fiel à sua criação. Sapkowski ainda afirma que o conceito de “Witchers por casas” — em alusão ao estilo de Hogwarts, de Harry Potter — é desnecessário e até prejudicial à estrutura interna de seus contos.

Futuro da franquia literária e possibilidades

Apesar das afirmações críticas, Sapkowski não descarta retomar o tema de forma mais controlada. Ele cogita expandir e reorganizar esse trecho polêmico de forma que dialogue melhor com o restante dos textos oficiais, talvez adicionando contexto aos medalhões e às origens desses símbolos.

Além disso, com a chegada da nova obra publicada recentemente, Crossroads of Ravens, cresce o interesse em ver como o autor continuará desenvolvendo o mundo de The Witcher a partir de sua própria visão, longe das influências do universo dos games.

Crossroads of Ravens e a juventude de Geralt

A nova publicação funciona como um prelúdio e leva o leitor a décadas antes do enredo da saga principal. Geralt ainda é jovem, recém-saído de Kaer Morhen — sem formação completa — e nas páginas revela um lado inexperiente diante dos perigos do continente. Sem estruturas de escolas definidas, a obra reforça a proposta do autor original de um treinamento singular e não institucionalizado.

Essa linha narrativa mais solta, segundo Sapkowski, contribui melhor para um realismo mítico e mais caótico, ao contrário do que ele chama de ordenações artificiais promovidas pelas adaptações digitais da franquia.

Reações e impactos no fandom

Apesar das reservas de Sapkowski, parte significativa do público já abraçou a ideia das escolas de bruxo como canon cultural, ao menos no âmbito dos produtos derivados. Fãs se identificam com estilos distintos, colecionam medalhões e discutem especulações de futuras aparições dessas ordens na franquia — não apenas nos jogos, mas também nas produções da Netflix.

Ainda que essas escolas não encontrem respaldo formal nos livros, elas desempenham um papel importante na experiência de centenas de milhares de jogadores ao redor do mundo.

Adaptações que ignoram o autor

A independência criativa dos projetos derivados trouxe outras mudanças notáveis. Na série da Netflix, por exemplo, há uma liberdade narrativa ainda mais ampla. Com a saída de Henry Cavill e entrada de Liam Hemsworth como novo Geralt a partir da quarta temporada, já se evidencia que o núcleo audiovisual da franquia também caminha de maneira autônoma.

A própria existência da nova escola no teaser do próximo game da CD Projekt é um exemplo claro de como o universo de The Witcher já não depende da aprovação de seu criador para evoluir em múltiplas mídias.

Andrzej Sapkowski, criador de The Witcher. Crédito: TORSTEN SILZ/DDP/AFP via Getty ImagesHoje, mesmo contrariando a visão de seu autor, as escolas de bruxo são parte inseparável do imaginário que envolve esse universo — um exemplo emblemático de como a ficção pode ganhar vida própria diante da audiência e evoluir para além de seu ponto de partida.

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