Os jogos da série Tony Hawk’s Pro Skater marcaram uma geração inteira não apenas pelo gameplay viciante, mas pela trilha sonora intensa. Para muitos, foi a primeira vez que ouviram punk rock — e isso moldou como percebiam o skate e a cultura ao redor dele.
Tony Hawk e lendas como Steve Caballero e Rodney Mullen revelam como a curadoria musical refletia a alma do esporte. Mais que uma trilha, foi uma porta de entrada para uma cena alternativa.
O que você vai ler neste artigo
A influência das trilhas sonoras na cultura gamer e skatista
Quando Tony Hawk’s Pro Skater foi lançado no final dos anos 1990, ele trouxe mais que manobras radicais e desafios cronometrados. As trilhas sonoras, compostas por faixas de punk, hip hop e thrash, tornaram-se uma parte essencial da experiência, transformando sessões de jogo em verdadeiros shows energéticos. Para muitos jovens, especialmente em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos, essa era a primeira oportunidade de ter contato com bandas como Dead Kennedys, Goldfinger ou Buzzcocks.
Tony Hawk afirma que desde o início buscava representar a verdadeira cultura do skate — ambiente no qual cresceu ouvindo punk rock em pistas improvisadas. Ainda que a Activision, desenvolvedora da franquia, buscasse equilibrar com nomes mais atuais, a essência rebelde e crua estava lá desde o início. Isso não só imortalizou faixas icônicas como estabeleceu uma trilha sonora afetiva na memória de quem cresceu nos anos 2000.
Curadoria musical como parte do design cultural
A escolha das músicas não era aleatória. Até skatistas famosos participaram da seleção, como Steve Caballero, que escolheu faixas para acompanhar seus vídeos nas versões clássicas. Ele destaca como o som acelerado do punk se encaixa ao estilo agressivo e fluido das manobras. Sua banda atual, Urethane, marca presença no remake Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4, reforçando o legado musical que ele ajudou a construir.
Outro exemplo emblemático é Lupe Fiasco, cujo hit “Kick, Push”, lançado originalmente em 2006, foi incorporado apenas agora à trilha principal de um Pro Skater. Segundo o rapper, isso representa um ciclo que se fecha, já que Tony Hawk havia o convidado anos atrás para tocar a música ao vivo em Los Angeles quando ela ainda era recente.
A força da nostalgia e o impacto geracional
A trilha sonora ajudou a eternizar o jogo não só como entretenimento, mas como símbolo de identidade para os jovens da época. Como apontam especialistas e os próprios envolvidos, há uma janela etária entre os 9 e 13 anos em que a formação de gosto musical se estabelece — e Tony Hawk’s Pro Skater chegou justamente nesse momento para muitos.
Rodney Mullen, uma das maiores lendas do skate, destaca que o jogo, ao reunir música, arte de rua e esporte radical, formou uma cultura única. Mesmo quem nunca subiu num skate pôde sentir a “textura” da cultura portrayed pelo jogo. Esse pacote completo tornou o game mais do que uma moda — algo culturalmente enraizado.
Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4: Revivendo e atualizando o clássico
O remake dos jogos 3 e 4 da franquia resgata esse universo, trazendo de volta músicas consagradas e introduzindo novas bandas ao público nostálgico e também ao atual. Hawk reconhece a expectativa enorme ao mexer em um conteúdo com mais de 20 anos de legado. Mas sente orgulho de estar mais envolvido na curadoria musical desta nova versão.
Caballero vê a participação de sua banda e a volta de Bodyjar como o retrato de um ciclo que se completa. Ambos fizeram parte dos anos dourados do Pro Skater e agora retornam revigorados, conectando passado e futuro. Essa continuidade mostra que, mesmo após duas décadas, ainda é possível encontrar inovação dentro da memória afetiva.
Um novo ciclo para uma nova geração
Com a tendência de revival dos anos 2000 e o retorno da estética Y2K, o cenário está propício para que novos jogadores — e skatistas — desenvolvam seu próprio vínculo com esse universo. A trilha sonora continua sendo a ponte central entre a mecânica do jogo e o estilo de vida que ele representa.
Enquanto os fãs de longa data redescobrem faixas esquecidas e revivem emoções adolescentes, novas audiências têm a chance de passar por essa formação cultural por meio de um jogo. Assim, a missão de Tony Hawk e sua equipe permanece viva: capturar o espírito do skate através da música.
O legado musical de Tony Hawk’s Pro Skater, impulsionado pela curadoria apaixonada e pela autenticidade cultural do esporte, continua deixando sua marca — agora em uma geração diferente, mas com os mesmos fones no ouvido e espírito rebelde no coração.
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