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Jogo polêmico é removido do Steam após proibição em diversos países

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Jogo polêmico é removido do Steam após proibição em diversos países — Desenvolvedor retira jogo com conteúdo extremo do Steam após proibição no Reino Unido, Canadá e Austrália devido a polêmicas.

O jogo No Mercy foi removido do Steam após ser alvo de suspensão no Reino Unido, Canadá e Austrália. A decisão do desenvolvedor veio na esteira de críticas por seu conteúdo extremo e altamente controverso.

Mesmo alegando que o jogo era apenas uma forma de fantasia, a produtora anunciou que não pretende prolongar o impasse nem gerar prejuízos para a Valve, empresa responsável pela plataforma.

A controvérsia por trás de No Mercy

O game No Mercy, vendido na plataforma Steam desde a liberação de conteúdo adulto em 2018, apresentava temas como incesto, chantagem e sexo não consensual. Em sua descrição, o título prometia aos jogadores a oportunidade de se tornarem “o pior pesadelo de qualquer mulher”, além de “nunca aceitarem um não como resposta”.

Esses elementos acenderam o alerta entre parlamentares e entidades de proteção no Reino Unido, onde o jogo foi banido após uma reclamação formal do secretário de tecnologia, Peter Kyle. Além disso, leis locais como a de 2008 que proíbe “imagens pornográficas extremas”, incluindo simulações realistas de violência sexual, podem classificar o game como ilegal.

A ministra do interior, Yvette Cooper, reforçou que o tipo de conteúdo presente em No Mercy já é considerado ilegal no país sobretudo por seu caráter violento e explícito, indo além das orientações de classificação etária.

Reações políticas e legais à remoção

Não apenas o Reino Unido, mas também Canadá e Austrália tomaram providências para impedir a comercialização do jogo. A pressão aumentou após o lançamento de uma petição no site Change.org, que reuniu mais de 13 mil assinaturas pedindo a proibição total do título.

As autoridades britânicas criticaram duramente o jogo. Nadine Dorries, ex-secretária de Cultura e membro do Partido Conservador, afirmou que o game reforça narrativas misóginas como a propagada por figuras como Andrew Tate. Para ela, proibições como essa são uma medida necessária para proteger mulheres, crianças e adultos vulneráveis.

A preocupação vai além dos conteúdos específicos de No Mercy. O debate inclui a falha do Steam em realizar verificações robustas de idade, permitindo que menores acessem materiais adultos com facilidade, o que vai contra as diretrizes do Online Safety Act aprovado em 2023.

O posicionamento da desenvolvedora

A criadora do jogo, Zerat Games, utilizou a página do Steam — posteriormente retirada do ar — para se manifestar. Em sua declaração, a empresa afirmou que não pretende enfrentar “o mundo inteiro”. Ela sustentou que o conteúdo não deve ser considerado prejudicial, argumentando que práticas como dominação masculina ou incesto fazem parte de contextos de fantasia e roleplay, e não incentivam comportamentos na vida real.

Entretanto, a desenvolvedora reconheceu que o comportamento retratado no jogo seria “nojento” no mundo real. A empresa também alegou que vídeos circulando nas redes sociais usavam imagens de outros jogos para representar erroneamente No Mercy e aumentar a indignação pública.

Falha nos mecanismos de moderação da plataforma

Desde que abriu espaço para jogos adultos em 2018, a Valve tem adotado uma política leniente em relação ao conteúdo desse tipo, usando como critérios apenas a legalidade e a ausência de “trollagem”. No entanto, casos como o de No Mercy colocam em xeque a eficácia desse posicionamento.

O jogo se junta a outros exemplos controversos na plataforma, como o caso de Rape Day em 2019, que também foi proibido após pressão pública. Muitos questionam se a Valve deveria intensificar sua curadoria, especialmente quando jogos com temas de violência sexual ainda aparecem em destaque na seção adulta do Steam.

Entre os casos semelhantes, é possível encontrar títulos que exibem descrições envolvendo dominação, controle mental, corrupção e até incesto opcional. A permanência desse tipo de conteúdo levanta a discussão sobre até onde vai a liberdade criativa e onde ela ultrapassa os limites da legalidade e da ética social.

Implicações legais e de privacidade

O episódio reacende também o debate sobre os limites entre privacidade online e segurança pública. O Online Safety Act exige mecanismos como verificação de documento ou cartão de crédito para acesso a pornografia — algo ausente no Steam, onde basta desabilitar filtros e utilizar cartões-presente para efetuar compras.

Apesar disso, a legislação perdeu força na sua formulação final, após críticas de organizações como a Electronic Frontier Foundation, que alertaram para os riscos de se comprometer o anonimato e a liberdade de expressão. A versão final do texto abandonou a proposta de censura a conteúdos “legais, mas prejudiciais”, justamente para preservar garantias civis.

Contudo, essa proteção à privacidade não ameniza a pressão sobre plataformas como o Steam para que aprimorem os filtros e monitorem com mais rigor os conteúdos oferecidos, sobretudo os acessíveis a públicos mais jovens ou sem supervisão adequada.

No fim, o caso No Mercy evidencia um conflito crescente entre liberdade criativa, responsabilidade civil e regulação digital. E diante da força da mobilização pública e política, parece inevitável que outras plataformas venham a revisar seus critérios à luz de legislações mais severas.

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