Internet sem cliques preocupa especialistas em tecnologia

O modo como usamos a internet está passando por mudanças profundas e silenciosas, que afetam diretamente quem produz conteúdo. Uma dessas transformações é o crescimento das buscas que não geram cliques, como alertou Matthew Prince, CEO da Cloudflare.

Essas chamadas “zero-click searches” indicam que o usuário vê a resposta direto na página de pesquisa e não acessa mais o site original. Para quem vive da audiência digital, o impacto é direto e preocupante.

A realidade da internet sem cliques

Hoje, cerca de 75% das pesquisas no Googlenão resultam em visitas a páginas externas. Isso acontece porque as próprias respostas, muitas vezes geradas por inteligência artificial, aparecem no topo da busca — com resumos informativos, definições ou tutoriais curtos sem que o usuário precise sair do Google.

Esse comportamento está mudando o modelo que sustentou a internet durante anos. Antes, criadores de conteúdo, jornalistas, blogueiros e sites em geral recebiam visitas a partir dos resultados de busca, o que gerava receita com publicidade e parcerias. Agora, com o usuário ficando dentro do ecossistema do próprio Google, o ciclo de valor fica comprometido.

Matthew Prince destacou que esse processo fragiliza o que ele chamou de “os alicerces da web aberta”. Afinal, sem retorno ou reconhecimento, poucos se sentirão motivados a continuar criando conteúdo original.

Além disso, o desequilíbrio tende a piorar com novas ferramentas baseadas em IA. Os sistemas usam o conteúdo publicado para responder diretamente às buscas, mas não redirecionam os leitores para as fontes — e quase nunca oferecem links visíveis no topo.

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A disputa pelo tempo do usuário

Grandes empresas de tecnologia desenvolveram práticas para manter o usuário dentro de suas plataformas o maior tempo possível. O Google, por exemplo, oferece uma gama de recursos — desde resultados diretos, widgets do tempo, estatísticas esportivas ao vivo até trechos de notícias com IA — tudo antes do primeiro link clicável.

Com isso, o que restava de tráfego orgânico gratuito está diminuindo. Prince aponta que, anos atrás, a cada duas páginas indexadas, uma gerava clique. Hoje, são necessárias seis páginas para gerar um único clique.

Esse padrão reforça a ideia de que as grandes plataformas estão concentrando poder e monetização, ao mesmo tempo que enfraquecem sites menores e independentes, tornando a internet menos plural.

O risco para a produção de conhecimento

O alerta do CEO da Cloudflare vai além da economia digital. O enfraquecimento do modelo baseado em audiência e remuneração por acesso pode inviabilizar projetos jornalísticos, educacionais e científicos que dependem justamente do engajamento direto para se manter ativos.

Se os modelos de busca priorizarem respostas automatizadas, padronizadas e genéricas, o risco é formar uma web superficial, com fragmentos repetidos e sem profundidade. Pior: o conteúdo original, que alimenta essas respostas, deixa de ser atualizado — porque não compensa mais mantê-lo.

O atual formato cria um ciclo insustentável. Ao mesmo tempo que fragiliza os produtores, reforça as bolhas de informação automatizadase desestimula novas iniciativas, como blogs, sites especializados e fóruns colaborativos.

IA e a falsa promessa de democratização

Com a aplicação de inteligência artificial em motores de busca, a promessa inicial era tornar o acesso à informação mais rápido, intuitivo e democrático. No entanto, o que se vê é o contrário: as IAs e mecanismos como os “AI Overviews” do Google sugam conteúdo da web aberta sem redistribuir acesso ou beneficiar financeiramente quem criou aquilo.

Matthew Prince alerta que “99% do investimento atual em IA pode ser dinheiro jogado fora”, mas o 1% que der certo mudará tudo. Mesmo assim, o custo pode incluir a desestabilização de um ecossistema digital que levou décadas para ser construído.

Na prática, os especialistas projetam um cenário em que os criadores independentes vão depender cada vez mais de formas alternativas para sobreviver, como newsletters pagas, patrocínios diretos ou plataformas no estilo “apoie um autor”.

Caminhos para manter a web viva

Se a internet quer continuar sendo um espaço de troca e criação, será essencial desenvolver mecanismos para valorizar o conteúdo original. Isso inclui repensar como algoritmos funcionam, como as respostas são apresentadas e como os cliques são incentivados.

Alternativas discutidas incluem:

  • Remuneração automática por uso de conteúdo, baseada em licenciamento.
  • Exibição obrigatória de fontes e links destacadosnas respostas geradas por IA.
  • Desenvolvimento de buscadores éticosque incentivem o clique em vez do consumo passivo.
  • Valorização de conteúdo local e criadores independentesnos algoritmos de busca.

As decisões que grandes empresas e reguladores tomarem agora poderão definir não apenas o que lemos, mas como — e por quanto tempo ainda valerá a pena escrever. O futuro da internet depende de soluções que restaurem o equilíbrio entre criação, acesso e recompensa.

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