GTA 6 continuará nos EUA, diz ex-desenvolvedor

Por anos, fãs da franquia Grand Theft Auto especularam sobre a possibilidade de a série sair dos Estados Unidos e explorar novas paisagens em outras partes do mundo. No entanto, uma revelação recente indica que essa expectativa pode nunca ser atendida.

Segundo um ex-diretor técnico da Rockstar, uma versão ambientada em Tóquio quase se concretizou — mas acabou arquivada. Com isso, a série continua presa ao cenário norte-americano, uma escolha que, segundo eles, envolve mais do que apenas nostalgia.

GTA: Tokyo — Uma Ideia que Nunca Saiu do Papel

O ex-desenvolvedor da Rockstar Games, Obbe Vermeij, revelou em entrevista ao site GamesHub que GTA: Tokyo chegou a ser considerado seriamente como uma nova ambientação para a série. A ideia era inovadora: levar a fórmula do crime urbano e sátira social para uma megacidade oriental cheia de contrastes e cultura própria. Um estúdio japonês, não identificado por Vermeij, chegou a ser cogitado para assumir o projeto com base no código-fonte da Rockstar.

Apesar do entusiasmo inicial, o plano não prosperou. Um dos principais obstáculos para sua realização foi a complexidade logística de desenvolver um título fora dos padrões estabelecidos pela franquia. O próprio Vermeij disse que a Rockstar percebeu que manter GTA nos EUA era mais seguro – e menos arriscado financeiramente – dado o alto custo e o tempo de produção.

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A América Como Palco Permanente

Vermeij afirmou que, embora ideias como GTA: Rio de Janeiro, GTA: Moscou ou GTA: Istambul tenham surgido, nada avançou além de brainstorms preliminares. A justificativa? Não apenas o risco de fracasso, mas também o papel central que os Estados Unidos desempenham na identidade da franquia.

“América é o epicentro da cultura ocidental. Mesmo quem nunca visitou o país tem uma imagem mental desses locais. É muito mais acessível narrativamente”, destacou Vermeij. Ele complementa dizendo que, com cada novo jogo levando quase uma década para ser produzido, não faz sentido arriscar em locais "fora do eixo tradicional".

Vice City, Liberty City e a “rotação das cinco cidades”

GTA 6 retornará à clássica Vice City, interpretada como uma versão fictícia de Miami. Essa decisão reforça um padrão que já se tornou previsível: a franquia gira entre cinco grandes cenários inspirados em cidades norte-americanas — Nova Iorque (Liberty City), Los Angeles (Los Santos), Miami (Vice City), São Francisco e Las Vegas (San Fierro e Las Venturas, respectivamente).

Vermeij acredita que essa rotação é um caminho sem volta: “A gente está preso nesse ciclo de cinco cidades americanas. Vamos nos acostumando.” O motivo disso está diretamente ligado à segurança comercial da marca e ao apelo cultural dos Estados Unidos, especialmente no que se refere à representação do crime e das instituições.

A Influência Cultural dos Cenários de GTA

A ênfase da série em cidades americanas vai além da geografia. É uma escolha narrativa. Houser, cofundador da Rockstar, já afirmou em participações públicas que GTA é uma análise ácida da cultura americana. Ele citou o exemplo de GTA London — um derivado lançado para o PlayStation 1 — como uma tentativa isolada que não se repetiu devido à falta de “espírito americano” necessário para o tom da série.

Essa construção simbólica é tão forte que influenciou até o meio acadêmico. A Universidade do Tennessee, por exemplo, vai oferecer um curso de história focado na representação dos EUA em jogos da série. Professor Tore Olsson, responsável pela iniciativa, afirma que muitos jogadores ao redor do mundo compreendem a América contemporânea através das lentes estilizadas de GTA.

Riscos, Expectativas e o Futuro da Franquia

Expandir o cenário para o exterior exigiria não apenas adaptar conteúdos, mas também ferramentas, linguagem, comportamento dos NPCs e até leis. Seria necessário criar uma infraestrutura completamente nova — um esforço que, segundo os ex-colaboradores da Rockstar, não se justifica frente à fórmula de sucesso já existente.

Entrar em mercados como Europa, América Latina ou Ásia traria dificuldades adicionais quanto à legislação local, licenciamento de referências e até tradução de sátiras para públicos com sentimentos culturais diferentes. Uma tentativa mal conduzida poderia gerar críticas severas ou uma desconexão com os fãs tradicionais.

Tecnologias e Narrativas: Mudando o Jogo Sem Mudar o Local

Apesar da repetição geográfica, a franquia se renova tecnologicamente. GTA 6 promete gráficos revolucionários, sistemas de inteligência artificial mais complexos e maior interatividade com o ambiente urbano. A Rockstar aposta que isso seja suficiente para manter o interesse do público, mesmo que o terreno continue sendo Vice City.

Essa tendência reflete um movimento também adotado por outras franquias, como o RPG pós-apocalíptico Fallout. Assim como GTA, Fallout optou por manter suas narrativas exclusivamente dentro dos EUA, trabalhando o conceito de uma estética retrô-futurista marcadamente americana até nos mínimos detalhes.

Um Futuro Preso ao Passado Cultural?

Ao que tudo indica, saídas ousadas como GTA: Tokyo continuarão sendo exceção e não regra. A Rockstar parece mais focada em refinar sua fórmula do que em reinventá-la. Isso não significa falta de criatividade, mas sim uma escolha estratégica baseada em bilhões de dólares e no impacto cultural da franquia.

Conforme os próprios criadores admitem, não se trata apenas de fazer um jogo divertido, mas de entregar uma sátira poderosa, realista e abrasiva da América moderna. Nesse contexto, improvisações fora do eixo Nova York-Miami-Los Angeles não apenas perdem força, como colocam em risco todo o DNA narrativo de GTA.

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