Brasil enfrenta desafios com jovens nem-nem

Enquanto registra queda histórica na taxa de desemprego jovem, o Brasil ainda convive com 5,3 milhões de pessoas de 18 a 24 anos que não estudam nem trabalham. Esses jovens, conhecidos como “nem-nem”, representam um desafio persistente para a inclusão social.

Por mais que os indicadores apontem avanços, fatores como desigualdade regional, maternidade precoce e falta de oportunidades formais dificultam o engajamento dessa geração. A tensão entre tecnologia emergente e capacitação adequada agrava o cenário.

O enigma dos nem-nem: juventude à margem

Dados recentes divulgados no evento ESG do “Empregabilidade Jovem Brasil”, promovido pelo CIEE em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que, apesar da taxa de jovens desempregados ter caído de 4,8 milhões em 2019 para 2,4 milhões em 2024, o contingente de 5,3 milhões da geração “nem-nem” permanece alto. Trata-se do menor número da série histórica, porém ainda alarmante quando se busca traçar a rota de inclusão produtiva da juventude brasileira.

Este cenário revela contradições: mesmo com maior disponibilidade de vagas de estágio e queda no desemprego formal, um grande número de jovens permanece fora da escola e do mercado de trabalho. Entre os fatores frequentemente apontados para essa exclusão estão a maternidade precoce e a falta de políticas públicas voltadas ao acolhimento de jovens mães.

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Desigualdade regional e a informalidade

A redução da taxa de desemprego entre os jovens foi significativa, passando de 25,2% para 14,3%, com destaque para as regiões Sudeste e Sul, que impulsionaram esse resultado. Em contrapartida, nas regiões Norte e Nordeste, a informalidade ainda atinge mais de 60% da juventude empregada — mais que a média nacional, que atualmente está em 44%.

Esta disparidade reforça um padrão histórico de exclusão: jovens de áreas menos desenvolvidas enfrentam obstáculos maiores para ingressar e se manter no mercado formal. Lidar com empregos instáveis, sem carteira assinada, é a realidade de muitos, sobretudo quando o deslocamento até o local de trabalho também se transforma em um fator de abandono. Segundo o levantamento, 23% dos jovens entrevistados relataram dificuldades de mobilidade urbana — um indicativo relevante da precarização estrutural.

Inserção formal cresce, mas com baixos salários

Apesar dos obstáculos, o estudo apresenta sinais de avanço no acesso ao trabalho formal. O contingente de estagiários cresceu de 642 mil para 990 mil em pouco mais de um ano. Esse avanço é impulsionado sobretudo por mulheres — que representam 64% do total de estagiários, sendo que 39% se autodeclaram pretas ou pardas.

Além disso, mais da metade dos jovens empregados está sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o que, em tese, garantiria proteção e estabilidade. No entanto, 67,1% desses trabalhadores recebem menos do que a média nacional de R$ 1.854,00, valor que reforça o distanciamento entre inclusão no trabalho e real independência financeira.

Saúde emocional e confiança no mercado em crise

Outro ponto sensível é o elevado número de jovens que decidem se desligar voluntariamente de seus empregos. Essa saída precoce não está apenas ligada à limitação financeira, mas também à insatisfação com o ambiente profissional. Entre os principais fatores relatados estão:

  • Baixa remuneraçãoe perspectivas limitadas.
  • Problemas éticos e conflitos com chefias.
  • Falta de flexibilidade nas jornadas de trabalho.
  • Sobreposição entre trabalho e estudo.

Destaque também para a questão da saúde mental. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 26% relatam algum tipo de adoecimento por estresse no trabalho. Esse dado revela que o ingresso no mundo profissional não tem sido, necessariamente, um passo de motivação ou empoderamento — muitas vezes, é um fardo desgastante.

Educação e IA: riscos de um abismo digital

Em um cenário reconfigurado pela automação e pela expansão da inteligência artificial, como no caso da substituição de criadores de conteúdo humanos por IA em empresas como o Duolingo, surgem questionamentos sobre quais jovens estão prontos para esse novo mercado. Sem investimentos consistentes em educação técnica e tecnológica, parte significativa da juventude corre o risco de ficar ainda mais à margem.

A transição digital não ocorre de forma uniforme. Enquanto alguns poucos se inserem no universo da programação e das ferramentas de IA, muitos sequer têm acesso à capacitação básica. A defasagem educacional provoca distanciamento cumulativo: aqueles conectados ao futuro tecnológico avançam, enquanto outros permanecem presos a empregos precários e oportunidades escassas.

O que está em jogo

A taxa de participação da população jovem no mercado de trabalho — hoje em 50,3% — ainda não retornou ao patamar pré-pandemia (52,4%). A exceção é a Região Norte, que apresentou leve crescimento, possivelmente relacionado ao aumento de postos informais.

Portanto, o fenômeno dos “nem-nem” não diz respeito apenas à ociosidade da juventude, mas sim a um conjunto de fragilidades sistêmicas: desde a educação insuficiente e carga emocional mal gerida até a persistência de um modelo econômico marcado por disparidades regionais, raciais e de gênero.

Sem uma estratégia nacional robusta que integre capacitação, mobilidade, suporte socioemocional e inclusão digital, a Geração Z corre o risco de se tornar símbolo de um impasse duradouro: a exclusão em plena era da inovação.

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