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crítica de lost records: bloom & rage tape 2

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crítica de lost records: bloom & rage tape 2 — análise de lost records: bloom & rage tape 2, uma história emocionante, nostálgica e carregada de temas feministas e sociais.

Quando Lost Records: Bloom & Rage Tape 2 finalmente chegou, após dois meses de espera desde sua primeira parte, trouxe consigo tanto expectativa quanto apreensão. A conexão com as protagonistas — especialmente Kat — estabelecida em Tape 1 ainda reverberava intensamente.

Lançado com a promessa de concluir a jornada nostálgica iniciada em Bloom, Rage se apoia mais em suas emoções e memória afetiva dos anos 1990 do que na jogabilidade. Mas embora tenha momentos sinceros, há uma sensação de potencial não totalmente realizado.

Continuação emocional, mas apressada

Tape 2 dá sequência direta aos eventos do primeiro episódio, centrando-se na inevitabilidade da morte de Kat. Doenças terminais sempre carregam um peso dramático, mas aqui, a abordagem lembra fortemente a estrutura de histórias como Stand By Me, sendo acrescida por nuances sobrenaturais. A diferença é que, enquanto os detalhes emocionais são bem trabalhados, o ritmo parece desigual.

Com duração média de quatro horas, quase metade do tempo de jogo é tomada por cutscenes. Embora estas ofereçam diálogos interativos — que moldam as relações entre as quatro protagonistas —, a edição apressada e a aparição de bugs acabam sabotando parte do impacto. A própria construção do segundo episódio remete a uma espécie de “terceiro ato” precipitado, ao invés de um capítulo completo, dando a entender que houve restrição de tempo ou recursos no desenvolvimento.

Mecânicas mantidas, mas sem evolução

Quem esperava novas funcionalidades em relação a Bloom pode se decepcionar. As mecânicas centrais permanecem: coleta de objetos detalhadamente modelados, uso da filmadora de Swann para registrar cenas e pequenos casos de manipulação de memória. Ainda assim, a maior parte permanece passiva, com pouca interatividade real.

Há pequenas jogadas de metalinguagem — como a volta no tempo provocada por uma lembrança mal reconstruída — que sugerem o esboço de algo mais complexo. Porém, essas ideias não se desenvolvem e acabam soterradas sob o peso da narrativa. A comparação com Xenogears e o notoriamente apressado segundo disco que virou quase uma visual novel se mostra pertinente, tanto estética quanto estruturalmente.

Uma história que desafia a nostalgia

Narrativamente, Rage oferece um desfecho forte, embora doloroso. Entre perseguições, violência e perdas, cada uma das garotas é arrancada de sua inocência. A conclusão espelha de forma brutal a transição da adolescência para a vida adulta. Ainda que existam múltiplos caminhos e escolhas, não há finais “ruins” — apenas variações na profundidade das temáticas exploradas.

Um destaque notável está no modo como o jogo traz à tona assuntos difíceis como homofobia e violência doméstica, contextualizando-os sem glamourizar, mas reconhecendo sua presença no cenário cultural dos anos 1990. Tal abordagem reforça que a nostalgia não pode ser apenas sobre trilhas sonoras, skate e fanzines. Ela também deve encarar os silêncios e dores que marcaram uma geração.

Aspectos técnicos e audiovisuais

Mesmo limitado em interatividade, Bloom & Rage segue esteticamente impecável. O detalhamento dos cenários, os objetos de época incrivelmente reproduzidos — como trabalhos de escola, fitas VHS e cadernos de anotações — puxam o jogador diretamente para o contexto da década.

Há pontos altos, como a trilha sonora bem selecionada e momentos silenciosos de grande impacto emocional. Entretanto, falhas visuais, cortes abruptos e certa inconsistência na dublagem em algumas cenas comprometem a imersão em várias passagens. Esses problemas indicam possíveis desafios de produção enfrentados pelo estúdio Don't Nod Montréal.

Considerações finais

Apesar das falhas técnicas e da estrutura narrativa desequilibrada, Lost Records: Bloom & Rage Tape 2 permanece como um fechamento emocionalmente ressonante para a história de suas protagonistas. A falta de ambição mecânica é compensada, em parte, pela honestidade com que aborda temas delicados e pela forte conexão emocional que constrói com o jogador.

Ao final, Tape 2 não é sobre salvar Kat, mas sobre aceitar que o tempo é imutável, e que memórias — em toda sua beleza e tragédia — precisam ser encaradas e registradas, mesmo que em fitas gastas.

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