A proposta de Cronos: The New Dawn era mirar em temas históricos e políticos situados na Polônia dos anos 80. No entanto, conforme a narrativa evoluiu, a equipe percebeu que havia conexões inesperadas com eventos mais recentes, especialmente a pandemia de Covid-19.
Essa associação não foi planejada. Segundo os criadores, ela emergiu de forma subconsciente durante o desenvolvimento, trazendo reflexões inesperadas sobre isolamento, perigos invisíveis e o colapso socioeconômico.
O que você vai ler neste artigo
Uma ficção científica com raízes históricas
Cronos: The New Dawn se ambienta em uma Polônia alternativa, abalada por uma epidemia devastadora durante a década de 1980. O cenário remete fortemente ao passado histórico da região, explorando o impacto do comunismo e da ocupação soviética. Elementos clássicos do terror de sobrevivência são empregados para intensificar o clima de desesperança que permeia o jogo.
O diretor Jacek Zięba afirma que tudo surgiu da intenção de construir um mundo afetado por uma tragédia. A ligação com a pandemia recente, segundo ele, só foi percebida com o tempo. O enredo envolve a investigação de uma cidade abandonada, cheia de mutantes e ruínas de um sistema que colapsou, em um traje de mergulho temporal que remete à atmosfera pesada de Dead Space.
Um reflexo involuntário da pandemia
Durante quatro anos de desenvolvimento, grande parte deles em meio à Covid-19, os escritores perceberam que certas temáticas do jogo traziam à tona dilemas contemporâneos. Grzegorz Like, roteirista principal, destaca que o jogo passou a levantar perguntas profundas, como: e se a união, símbolo de sobrevivência em outras crises, fosse o próprio gatilho do fim?
A equipe tratou essa percepção com cuidado. Era preciso não transformar o jogo em uma alegoria direta da pandemia, mas reconhecer que sentimentos como medo, isolamento e desconfiança estavam ali. Esses sentimentos ganharam forma através dos monstros — mutações grotescas, que parecem nascer tanto do corpo quanto da mente humana.
Estética e jogabilidade que remetem aos clássicos
O traje futurista usado pelo protagonista impõe limitações deliberadas nos movimentos, criando um contraste entre a tecnologia da viagem no tempo e a sensação de vulnerabilidade física. Isso dá ao jogador uma experiência mais pesada, lenta, em que o planejamento e a atenção são cruciais para a sobrevivência.
Os combates seguem um estilo mais metódico e arcaico. Não há agilidade nem possibilidades de manobras rápidas ao estilo Resident Evil 4. As lutas envolvem mirar com precisão, carregar tiros potentes e usar elementos do cenário, como barris explosivos. Apesar disso, o ritmo pode parecer frustrante para alguns jogadores, especialmente nos encontros em que o posicionamento é mal favorecido.
Sistema de evolução dos monstros
Um dos elementos mais interessantes introduzidos é o sistema de fusão entre inimigos. Mutantes podem absorver cadáveres caídos para evoluir, se tornando versões mais formidáveis. Isso obriga o jogador a tomar decisões estratégicas: eliminar todos os inimigos rapidamente, ou impedir que seus corpos se tornem ferramentas de fortalecimento inimigo.
Para isso existe um lança-chamas — item útil, mas com suprimento limitado — que incinera os cadáveres antes que possam ser reaproveitados. Essa mecânica adiciona urgência e uma camada de complexidade aos combates, exigindo atenção não apenas ao alvo ativo, mas também ao campo de batalha como um todo.
Atmosfera forte, mas combate inicial moroso
Visualmente, Cronos impressiona. Os cenários misturam ruínas soviéticas com estruturas decadentes, formatos industriais e simbolismos de uma sociedade colapsada. Entretanto, as primeiras horas do jogo podem decepcionar em termos de ação, com movimentação rígida e ritmo lento.
Ainda assim, a ambientação e o potencial narrativo são grandes trunfos. O uso de jumpscares, sons ambientais e iluminação limitada intensificam o suspense, mesmo que os combates careçam de dinamismo. Onde o jogo realmente brilha é na sensação constante de ameaça e na competência com que constrói um mundo em ruínas.
Uma distopia que dialoga com o presente
Conforme avançamos em Cronos: The New Dawn, fica mais evidente que não se trata apenas de monstros grotescos ou armas futuristas, mas sim de uma meditação sobre o colapso de sistemas, o medo do contágio invisível e a fragilidade humana. Não é uma obra sobre a pandemia, mas inevitavelmente espelha os temores e angústias do mundo pós-2020.
O resultado é um título que, apesar das limitações no combate inicial, oferece profundidade temática rara nos games atuais. Ao unir ficção científica, história e horror psicológico, Bloober Team entrega uma experiência que ressoa com traumas vividos e ainda em processo de compreensão coletiva.
Leia também:
- A.I.L.A. revoluciona o survival horror com inteligência artificial aterradora
- Alien: rogue incursion chega renovado com xenomorfos ainda mais mortais
- Atomfall recebe DLC com ilha assustadora e combates emocionantes
- Atualização final de Blood Typers traz novos desafios de survival horror
- Bloober Team revela trailer de Cronos: The New Dawn com mecânica inovadora
- Capcom abandona versão mundo aberto de Resident Evil Requiem
- Como assistir Invocação do Mal em ordem cronológica
- Holstin: 5 motivos para jogar este incrível survival horror em pixel art