O RPG oficial do Cosmere, universo criado por Brandon Sanderson, finalmente chegou após uma bem-sucedida campanha de financiamento coletivo. A proposta entrega aos fãs uma maneira formal e rica para explorar Roshar, o mundo da série Stormlight Archive.
Mesmo que sua base mecânica remeta a sistemas como D&D, a forma como o Cosmere RPG entrelaça narrativa, lore e desenvolvimento de personagem o torna uma experiência diferenciada para fãs de fantasia e jogadores veteranos.
O que você vai ler neste artigo
Primeiras impressões do sistema
O sistema adotado pelo Cosmere RPG utiliza essencialmente dados D20, com regras familiares para quem já jogou Dungeons & Dragons ou Pathfinder. A estrutura de turnos com Ações, Reações e Ações Livres facilita o entrosamento de jogadores iniciantes.
Apesar da familiaridade mecânica, o sistema introduz elementos próprios, como o "Dado da Trama" (Plot Die), um d6 acionado exclusivamente em momentos de destaque narrativo. Ele pode provocar complicações, dar vantagens inesperadas ou liberar "Oportunidades" – recursos narrativos valiosos. Essa inclusão enfatiza o aspecto narrativo e torna cada rolagem importante mais imersiva.
Outro diferencial é a economia de ações, com custos variados de pontos por ação. Isso dá profundidade tática aos combates e mantém a fluidez na mesa.
Criação e progressão de personagens
A construção de personagens merece destaque pelas possibilidades narrativas e mecânicas. O jogador escolhe entre duas ancestralidades – Humanos e Cantores – cada qual com ramificações que conectam o personagem a uma cultura ou região de Roshar, afetando perícias, idiomas e interações sociais.
Na progressão, não há classes tradicionais. Em vez disso, o sistema emprega "Caminhos Heroicos", como Agente, Caçador, Líder, entre outros. Cada caminho possui três especializações e talentos únicos. Ao evoluir, o personagem pode seguir aprofundando-se na mesma trilha ou trocar de caminho, conforme a evolução da história.
Essa fluidez permite criar personagens complexos e multifacetados, evitando as barreiras tradicionais de multiclasses e hit dice divergentes.
O poder dos Radiantes
A grande atração para os fãs de Stormlight Archive é a possibilidade de se tornar um Cavaleiro Radiante a partir do nível dois. Todas as ordens estão disponíveis: Windrunners, Edgedancers, Dustbringers, Lightweavers e outras. Cada ordem concede:
- Um spren personalizado, vinculado ao personagem;
- Talentos específicos de sua ordem;
- Dois Surgebinding únicos com árvores de talentos próprias;
- A possibilidade de recrutar escudeiros (squires);
- Progressão baseada nos "Ideais", juramentos chave na construção da ordem Radiant.
Desenvolvimento narrativo aliado às mecânicas
Diferente de outros RPGs, a criação de propósito e obstáculos internos se entrelaça diretamente ao progresso dos personagens. Além disso, o mestre (Narrador) pode criar arcos centrados nas ambições dos jogadores, implantando eventos que testarão tanto habilidades quanto convicções dos protagonistas.
Exemplos de objetivos incluem:
- Vingar um familiar perdido;
- Descobrir novas formas de usar a Investidura para curar feridos;
- Superar traumas antigos, provando-se digno de jurar novos ideais.
Essa construção impulsiona o jogo além do tabuleiro, centrando-se nos dilemas morais e existenciais. É um convite ao roleplay forte e autêntico.
Qualidade dos livros e fidelidade ao cânone
Três livros principais compõem a primeira leva:
- The Stormlight Handbook– guia do jogador;
- The World Guide– manual do narrador;
- Stonewalkers– campanha pronta para jogar.
A riqueza de detalhes nos livros é um dos grandes trunfos. O Guia de Mundo, em particular, mergulha em culturas, tradições, religião, geografia e até moda dos povos de Roshar. Tudo validado com a equipe de Sanderson, garantindo informação canônica.
Contudo, é necessário cuidado: quem ainda não leu “Wind and Truth”, publicado em dezembro de 2024, pode esbarrar em spoilers significativos sobre a cultura e os eventos recentes do Cosmere.
Enquanto os livros impressionam na profundidade cultural, decepcionam em certos aspectos técnicos. Sentiu-se a ausência de:
- Estatísticas básicas para os Heralds, figuras centrais do panteão e história de Roshar;
- Regras específicas para Honorblades, armas que rivalizam com shardblades;
- Referências práticas para entidades como os Unmadeou Shards(Odium, Cultivation, Honor);
- Exemplos concretos das magias de outros mundos Cosmere, como Allomancia de Scadrial ou AonDor de Sel.
A ausência desses elementos não inviabiliza o jogo, mas pode frustrar mestres experientes ou fãs ansiosos por aventuras mais ambiciosas no cenário. Há sinais de que estas adições virão em futuros suplementos, mas isso ainda requer paciência dos jogadores.
Suporte online e materiais digitais
Além dos livros físicos, o RPG do Cosmere oferece suporte robusto por meio das plataformas Demiplane e DriveThruRPG, incluindo:
- Versões digitais completas dos livros;
- Geradores de personagens online;
- Cenários e suplementos prontos para jogar;
- Criador de inimigos high-tier customizáveis.
Para mestres digitais, essa estrutura é atrativa e moderna, evitando longas preparações manuais. Ainda assim, algumas ferramentas exigem tradução ou adaptação se o mestre ou grupo não for fluente em inglês.
Considerações finais
Como jogo de RPG, o Cosmere entrega uma base sólida, inovadora e acessível para novos jogadores, sem comprometer a profundidade esperada por fãs das obras de Sanderson. A criação de personagens favorece narrativas envolventes e sistemas de progressão mais fluidos que os tradicionais.
Apesar de algumas lacunas notáveis no conteúdo de antagonistas e itens mágicos clássicos do cenário, a expectativa por novos volumes promete cobrir essas ausências. Até lá, o que já está disponível é suficiente para campanhas memoráveis – especialmente se o grupo incluir entusiastas da saga Stormlight Archive.
O Cosmere RPG será lançado fisicamente em 12 de novembro. Para quem não quer esperar, as versões digitais disponíveis já dão acesso ao material completo para jogar.
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