Inspirado nos clássicos dos anos 2000, Of Ash and Steel aposta em um estilo RPG retrô com fortes nuances de jogos como Gothic e The Witcher. A proposta? Colocar um cartógrafo inexperiente em meio ao caos, longe do papel clássico de guerreiro imbatível típico do gênero.
Na ilha vulcânica de Grayshaft, a promessa de aventura é rapidamente substituída por sobrevivência dura, onde a ambientação hostil transforma o progresso em uma verdadeira jornada de autossuperação forjada em cinzas e aço.
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Enredo: do anonimato ao herói
A escolha por um protagonista como Tristan, um simples órfão com conhecimento em cartografia, redefine expectativas. Sem armadura brilhante ou treinamento militar, ele embarca numa missão que logo degenera em desespero: os guerreiros da comitiva morrem, e cabe a ele levar uma mensagem vital.
Esse "zero a herói" se constrói com naturalidade. Ao contrário de muitos RPGs modernos, o jogador inicia com um personagem fraco, limitado tanto fisicamente quanto mentalmente, e precisa conquistar tudo com dificuldade. Esta imersão é reforçada por NPCs que reagem ao visual e postura de Tristan, oferecendo diálogos diferentes conforme sua evolução.
Sistema de progressão e combate desafiador
O combate em Of Ash and Steel valoriza paciência, observação e estratégia. Inspirado em jogos desafiadores como Outward e até nos primeiros Soulslike, o sistema utiliza stamina, parry e esquivas como fundamentos. Tudo é lento no início, pensadamente desconfortável, para refletir a inexperiência de Tristan.
Há três árvores de habilidades disponíveis:
- Combate: permite escolher três posturas distintas adaptadas a diferentes armas (espadas, facas, clavas, machados, bestas).
- Sobrevivência: voltada para manter o personagem alimentado, hidratado e apto a explorar com mais eficiência.
- Artesanato: cuida da manutenção e melhoria de equipamentos e representa a principal fonte alternativa de renda além das missões.
Essas árvores alimentam diretamente o desempenho em batalha. Uma armadura bem reforçada ou uma arma afiada muda drasticamente os resultados dos combates. E há sistemas interessantes de craft que envolvem desde cozimento para buffs até envenenamento de armas.
Design clássico e atmosfera imersiva
A estrutura do mundo de Grayshaft remete aos títulos mais duros e punitivos da era Piranha Bytes. Sem escalonamento de nível, inimigos mantêm seu poder fixo e impõem respeito desde os primeiros passos fora da trilha principal.
Além disso, o jogo não fornece marcadores de missão ou orientações visuais de HUD modernos. Em vez disso, exige leitura atenta e atenção aos diálogos para explorar e avançar. É uma abordagem que recompensa os observadores e desafia os impacientes. NPCs possuem rotinas dinâmicas e, dependendo da hora ou do clima, podem não estar disponíveis, reforçando o dinamismo do mundo.
Humor estranho e momentos inesperados
Mesmo com uma ambientação sufocante marcada por cinzas vulcânicas letais e monstros mortais, Of Ash and Steel se permite doses de humor. Quest paralelas absurdas, como a missão de recuperar calças sujas deixadas por um bêbado, enriquecem a experiência com leveza.
Este tom peculiar lembra muito jogos como Gothic, mesclando drama com ironia de forma pouco vista hoje. A dublagem levemente camp contribui para o charme, criando momentos memoráveis mesmo em meio à tensão constante da sobrevivência.
Sobrevivência como pilar da jogabilidade
Cada jornada nesse RPG é um exercício de resistência. Comer, beber e descansar nos pontos de acampamento é essencial. Dormir e cozinhar nesses locais também concede bônus temporários, exigindo do jogador planejamento para enfrentar áreas ou inimigos mais perigosos.
Além disso, a relação entre passagem de tempo e movimentação de NPCs e inimigos torna a navegação mais estratégica. Certas interações só acontecem durante horários específicos — incluindo inimigos dormindo, diálogos de missão disponíveis apenas depois do pôr do sol e eventos climáticos repentinos.
Dificuldade rigorosa, mas recompensadora
Of Ash and Steel não perdoa erros. Um inimigo de nível mais alto pode eliminar Tristan com poucos golpes. Ratos gigantes, insetos e lagartos mortais fazem parte dos desafios cotidianos.
Apesar disso, o jogo é justo. Quem dominar a arte de esquivar, usar o ambiente a seu favor — inclusive atraindo inimigos para perto de NPCs mais fortes — e investir tempo treinando habilidades, encontrará recompensa consistente. A dificuldade faz da vitória algo sentido, e não dado.
Primeiras impressões e expectativa
Com uma demo que explora as duas primeiras horas do jogo, ficou claro que Fire Frost quer entregar uma experiência pensada para veteranos e novatos curiosos. Há ajustes a serem feitos — especialmente no combate inicial e nos controles — mas a fundação é sólida.
A ausência de facilidades modernas, como viagem rápida ou checkpoints generosos, pode afastar alguns, porém encantará quem busca profundidade e ambientação autêntica. O RPG caminha para ocupar um espaço raro no mercado atual: o de jogos médios, com identidade, alma e potencial.
Of Ash and Steel será um teste tanto de habilidade quanto de perseverança, em um mundo hostil onde o jogador começa como ninguém — e pode terminar como uma lenda.
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