Durante décadas, o universo de Dungeons & Dragons (D&D) e a obra literária de J.R.R. Tolkien coexistiram alimentando o imaginário de fãs de fantasia ao redor do mundo. No entanto, essa coexistência já foi marcada por disputas legais que levantaram questões sobre originalidade, inspiração e limites do uso criativo.
A relação entre os criadores de D&D e os herdeiros de Tolkien tornou‐se ingrata quando alegações de plágio e uso indevido de propriedade intelectual ameaçaram o futuro da franquia. A seguir, veja como esse embate jurídico começou, se desenvolveu e influenciou o mercado de fantasia.
O que você vai ler neste artigo
O nascimento de Dungeons & Dragons e suas influências
Lançado em 1974 por Gary Gygax e Dave Arneson, Dungeons & Dragons virou um marco na cultura geek. Baseando-se em sistemas de wargames, o jogo foi pioneiro ao permitir que jogadores criassem personagens que evoluíam conforme as aventuras se desenvolviam.
Entre as principais influências de D&D estão mitologias diversas, lendas medievais, literatura pulp — e, notoriamente, os livros de J.R.R. Tolkien, como O Senhor dos Anéise O Hobbit. Termos como “halfling”, “ent”, “orc” e a estrutura de raças e classes lembram claramente aspectos do legendarium tolkieniano.
A primeira ameaça legal: uso direto de nomes e criaturas
Nos primeiros anos de D&D, várias referências ao trabalho de Tolkien eram explicitamente usadas no jogo. A edição original listava criaturas como balrogs, entse os já populares hobbits. Isso chamou a atenção da Tolkien Enterprises(hoje Middle-earth Enterprises), detentora dos direitos sobre a obra de Tolkien.
Ainda na década de 1970, a empresa ameaçou a editora TSR (detentora de D&D na época) com um processo por uso indevido de propriedade intelectual. Para evitar a disputa judicial, Gygax e sua equipe retiraram os nomes protegidos por direitos autorais em edições posteriores e os substituíram por termos genéricos ou criados pela própria TSR, como:
- Entsse tornaram treants
- Balrogsforam retirados do bestiário
- Hobbitsse transformaram em halflings
O argumento da originalidade e da cultura compartilhada
O centro da controvérsia recai sobre o que pode ou não ser considerado propriedade intelectual protegida. Argumentos levantados pela defesa da TSR afirmavam que criaturas como orcs e elfos não foram invenção exclusiva de Tolkien, mas sim elementos presentes em mitos nórdicos e medievais.
Contudo, a forma como Tolkien os descrevia, suas características específicas e denominações estavam, sim, protegidas. O acordo entre as partes evitou um processo formal, mas estabeleceu um precedente importante para demais criações de fantasia. Foi um divisor de águas para escritores, designers de jogos e roteiristas entenderem até onde podem ir ao usar elementos inspirados em obras pré-existentes.
Impactos no desenvolvimento de D&D e da fantasia moderna
A disputa forçou a TSR a desenvolver um universo único e menos dependente de Tolkien. O resultado foi o aprofundamento de mundos próprios como Forgotten Realms, Greyhawke Dragonlance, que viriam a influenciar profundamente toda a indústria de RPG.
Essa independência criativa não apenas afastou futuras questões legais como também deu maior identidade ao D&D. Ao mesmo tempo, a ação da família Tolkien teve reflexos duradouros, ao mostrar como gerenciar de maneira rigorosa o licenciamento de uma franquia literária de sucesso.
Outros casos semelhantes envolvendo Tolkien
A família Tolkien não foi seletiva apenas com D&D. Outras obras que fizeram uso de nomes ou elementos diretamente extraídos da Terra-média também enfrentaram ações judiciais. Alguns exemplos incluem:
- Grupos musicais que usaram o nome “hobbit” em suas marcas foram notificados.
- Franquias audiovisuais tentaram usar locais como Moria ou Mordor sem licenciamento e receberam ordens de retirada.
- Empresas de jogos online como The One Ringpassaram por negociações complicadas para obter direitos de adaptação.
Legado da disputa e reflexões atuais
Nos dias de hoje, Dungeons & Dragons é uma das marcas mais consolidadas no entretenimento, com filmes, séries e publicações próprias. Mesmo décadas após a disputa, a conexão com a obra de Tolkien ainda é sentida, não como cópia, mas como herança do imaginário comum da fantasia ocidental.
Essa situação revelou também a importância de proteger e respeitar direitos autorais, sobretudo quando se trata de universos literários vastos e influentes. Reforçou-se a noção de que integridade criativa e respeito à propriedade intelectual são compatíveis e podem impulsionar a criação de novas ideias.
O embate entre D&D e a família Tolkien não é apenas uma curiosidade histórica — é um marco que delineou os limites entre homenagem e infração, moldando a forma como as indústrias do RPG e da literatura de fantasia cresceram de forma independente, criativa e legalmente sólida.
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