Clair Obscur: Expedition 33 chamou a atenção do público pelo visual estilizado, pela ambientação melancólica e por carregar uma promessa de experiência herdada dos JRPGs clássicos, especialmente a série Persona. No entanto, por trás do nome enigmático e da estética sombria, há um enredo tão excêntrico quanto fascinante.
O título do jogo não é apenas estético — ele traduz literalmente o tom da narrativa. Após uma primeira leitura superficial, poucos imaginariam que as palavras "Expedition 33" se referem a uma missão suicida contra uma figura imortal que pinta números, matando com isso milhares de pessoas.
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Uma pintora que dita a morte
A trama de Clair Obscur: Expedition 33 gira em torno de um evento anual apocalíptico. Uma entidade conhecida como “A Pintora” desperta uma vez por ano para pintar um número em seu monólito sagrado. O efeito é imediato e devastador: todas as pessoas com a idade correspondida ao número pintado desaparecem, transformadas em fumaça.
A cada ano, esse número diminui, aproximando-se lentamente das faixas etárias mais jovens. Quando o jogo começa, a Pintora está prestes a pintar o número 33 — e é exatamente nessa véspera que um grupo de personagens, todos entre 32 anos ou menos, parte em uma última tentativa de pôr fim à artista da morte.
O peso da procrastinação no fim do mundo
Um dos aspectos mais inusitados da narrativa está no timing da expedição. Por razões não totalmente esclarecidas, os protagonistas escolhem iniciar sua jornada justamente no dia em que a Pintora pintará o número fatal. Isso levanta questões sobre decisões estratégicas no universo do jogo: por que não partir antes? Seria negligência, desespero ou simplesmente a única data possível após tentativas anteriores frustradas?
Fragmentos do enredo sugerem que outros grupos de expedição falharam — e os protagonistas agora seguem os vestígios dessas missões anteriores. Esse detalhe reforça a ideia de que o mundo de Clair Obscur vem tentando conter o ciclo da Pintora há anos, mas suas tentativas foram sistematicamente destruídas.
Um ciclo implacável de contagem regressiva
A presença da personagem Maelle, de apenas 16 anos, mostra que a maldição não funciona como um feitiço instantâneo. Ela sabe que tem apenas nove anos de vida restantes, não porque será ignorada pelo número correspondente à sua idade, mas porque a Pintora seguirá descendo nos números a cada ano. Esse ciclo revela que a morte não ocorre exatamente no dia do anúncio, mas ao longo de um implacável e contínuo calendário anual.
O fato da idade ser previamente fixada para cada ano cria uma contagem regressiva silenciosa, onde a juventude é apenas uma trégua temporária. A natureza inevitável da morte nesse mundo torna a jornada dos protagonistas ainda mais urgente — eles literalmente lutam contra o tempo.
Sistema de combate e críticas iniciais
Apesar da narrativa criativa, nem todos os aspectos do jogo foram bem recebidos nos testes iniciais. A mecânica de combate foi criticada por parte da mídia especializada. Combinando elementos de batalhas por turnos com execuções em tempo real, o sistema foi considerado ambicioso, embora confuso por alguns analistas.
Ainda assim, o potencial de Clair Obscur: Expedition 33 segue sendo reconhecido. O trabalho visual inspirado em técnicas pictóricas como o chiaroscuro renascentista (que dá nome ao título em sua versão francesa) ajuda a reforçar o tom sombrio e misterioso da história.
Uma metáfora ou pura fantasia?
O conceito da Pintora e de sua contagem mortal desperta diversas interpretações. Há quem enxergue na história metáforas sobre doenças, envelhecimento e até mudanças sociais ou climáticas. A cada ano, um grupo é eliminado com frieza, enquanto o restante parece assistir passivamente.
Outras interpretações apontam para uma crítica à falta de ação coletiva e à apatia diante de ameaças existenciais. A elite governante desse universo poderia facilmente ter agido mais cedo, mas permitiu que a tragédia fosse se aproximando das idades produtivas antes de tomar providências.
Clair Obscur: Expedition 33 chega oficialmente em 24 de abril para PC e consoles. Com sua proposta ousada e atmosfera carregada, o jogo promete mexer com emoções e levantar discussões, mesmo entre aqueles que não são fãs tradicionais do gênero. O que parecia apenas mais um RPG melancólico, revelou um mundo estranho, cruel e profundamente simbólico.
