Eu realmente achei que tinha feito a melhor escolha para o final de Karlach em Baldur’s Gate 3. Afinal, entre morrer, voltar ao inferno ou virar um Devastador tentacular, parecia que ela tinha escolhido o menos pior.
Mas conforme revelou a atriz Samantha Béart, intérprete de Karlach, eu estava profundamente enganado. Aquela criatura que restou após a transformação não era mais ela — era apenas um disfarce, uma sombra do que ela foi.
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A decisão difícil no final de Baldur’s Gate 3
Ao atingir o clímax de Baldur’s Gate 3, há uma bifurcação crucial envolvendo Karlach, a guerreira tiefling carismática e ferrenha. Diante de um destino imposto por sua condição – um coração mecânico instável prestes a falhar –, ela não pode simplesmente viver uma vida normal após a vitória contra o Absoluto.
O jogo oferece poucas alternativas realmente satisfatórias:
- Voltar ao inferno de Avernus, que Karlach abomina profundamente.
- Morrer como mártir, tendo vivido um tempo precioso ao lado de amigos.
- Ou… transformar-se em um Devorador de Mentes, um Mind Flayer.
Essa última foi justamente a escolha feita no relato original – tendo o jogador recusado o sacrifício pessoal ou de outros personagens como Shadowheart, Karlach se voluntaria para o processo.
A desumanização por trás do Mind Flayer
Na mitologia de Dungeons & Dragons, o processo de ceremorfose – transformação em Mind Flayer – é profundamente desumanizante. Envolve a completa ruptura com a consciência e a alma do hospedeiro original, dando lugar a uma entidade essencialmente alienígena e predatória.
Apesar da aparência visual de Karlach-ser-Mind-Flayer ainda lembrar sua forma anterior, Samantha Béart explicou que a essência da personagem não sobrevive à metamorfose. A performance também foi adaptada para refletir isso:
"Isso é agora um impostor interpretando Karlach", explicou a atriz, ao lado do diretor de movimento do jogo. A intenção era transmitir sutilmente ao jogador que aquela criatura não era mais a mesma pessoa.
Assim, mesmo que visualmente Karlach ainda pareça engajada, emotiva e esperançosa, esses comportamentos são falsos vestígios, quase como uma simulação vazia de empatia.
O engano emocional que a atuação reforçou
O fato de tantos jogadores escolherem essa opção acreditando ser uma espécie de “final feliz alternativo” se dá, em parte, pela força da atuação de Béart. Ela comenta que, apesar de trabalhar com um roteiro rígido por conta da estrutura de desenvolvimento do jogo, conseguiu inserir nuances emocionais marcantes.
Um exemplo disso está na cena em que Karlach, conformada com sua morte iminente, incentiva o personagem do jogador a seguir a vida e o amor com outra pessoa:
“Aquela fala ‘divirta-se’ foi feita com os dentes cerrados,” revelou Béart.
Além disso, uma das falas mais compartilhadas da personagem, “I love you too”, foi moldada livremente por ela — dita como uma única palavra, apressadamente, revelando intensidade emocional genuína.
O peso da decisão e a percepção dos fãs
Karlach tocou profundamente os jogadores por seu espírito vibrante, pelas injustiças que sofreu e pela determinação com que encarou tudo isso. Ela não pedia piedade, mas respeito. Por isso, a possibilidade de “salvá-la” através da transformação foi, para muitos, uma alternativa mais gentil do que deixá-la morrer.
Contudo, o que essa alternativa acarreta é justamente o oposto: a destruição total do que a tornava quem era.
Baldur’s Gate 3 não oferece respostas simples, e nesse caso, escancara uma escolha que aparenta ser altruísta, mas que mascara uma consequência irreversível. Mesmo com o entusiasmo e a energia típicos da personagem inicialmente aparentes, é uma ilusão — a Karlach real, emocional e espiritualmente, não está mais ali.
Uma reflexão tardia, mas valiosa
O eventual reconhecimento de que Karlach não sobreviveu em essência toca fundo. Essa revelação ressignifica o final considerado “aceitável” por boa parte dos jogadores e convida à reflexão sobre sacrifício, identidade e o que realmente significa “salvar alguém”.
A atuação de Béart, ancorada em sentimentos não explícitos no texto, elevou ainda mais o impacto desse momento para o público. Ela ofereceu uma performance que enganou até os mais atentos — e por isso, merece igualmente admiração e pesar. Afinal, ninguém é perfeito, e decisões difíceis frequentemente vêm com consequências invisíveis à primeira vista.
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