Na década de 1990, computadores pessoais começaram a se popularizar nos lares e escritórios. Entre componentes curiosos da época, o botão "Turbo" presente em muitos gabinetes chamava a atenção.
Apesar do nome sugestivo, a função desse botão era outra: em vez de acelerar a máquina, ele diminuía a sua velocidade propositalmente.
O que você vai ler neste artigo
O que era o botão Turbo
O botão "Turbo" surgiu nos anos 1980, sendo popularizado nos computadores com processadores da linha Intel 80286, 80386 e até 80486. Ele tinha como propósito reduzir a velocidade do processadorpara garantir a compatibilidade com softwares mais antigos.
Na prática, ao pressionar o botão, o clock do processador caía de forma significativa — de 33 MHz para 8 MHz, por exemplo. Isso era necessário porque muitos programas e jogos desenvolvidos para processadores mais lentos funcionavam mal ou rápido demais em hardware mais novo. O botão, portanto, servia como uma forma de "retrocompatibilidade".
A presença de um visor numérico no gabinete, normalmente com números como "33" e "16", dava a sensação de que a máquina estava sendo acelerada, embora o valor maior normalmente correspondesse ao modo com o botão "Turbo" ativado — ou seja, modo rápido. O botão em si desligava a função Turbo, resultando numa performance mais lenta.
Por que era necessário reduzir a velocidade
Naquele período, jogos e softwares frequentemente eram projetados com base na velocidade do clock das CPUs da época. Muitos deles utilizavam laços de esperabaseados no número de ciclos de clock como forma de temporização. Assim, computadores mais rápidos executavam essas instruções muito depressa, quebrando o equilíbrio da experiência com animações, músicas e tempos de resposta.
Com isso, tornar a máquina mais lenta por meio do botão "Turbo" era uma solução prática para evitar erros críticosou travamentos causados por essa incompatibilidade. Programas de MS-DOS são os principais exemplos desse problema e, durante anos, precisaram de soluções como essa para rodarem adequadamente em máquinas mais potentes.
Como os jogos da época eram afetados
Jogos como Prince of Persia, Test Driveou Commander Keeneram fortemente impactados por diferenças de clock. Em sistemas muito rápidos, o ritmo do jogo podia se tornar desgovernado, personagens se moviam em alta velocidade e controles ficavam completamente descompassados.
Além disso, alguns jogos limitavam a taxa de quadros com base na velocidade do processador. Sem o botão "Turbo", os títulos eram praticamente injogáveis em máquinas recentes. Por isso, fabricantes passaram a incluir essa alternativa para aumentar a compatibilidade dos softwares com os novos hardwares, sem necessidade de atualizações ou configurações complicadas.
O fim do botão e o avanço da tecnologia
Com o tempo, os sistemas operacionais passaram a oferecer mecanismos internos de controle de clock e compatibilidade, tornando esse artifício obsoleto. Além disso, os jogos passaram a ser desenvolvidos levando em conta diferentes velocidades de CPU, usando rotinas de temporização mais eficientes.
Nos anos 2000, com o advento do Windows e das aplicações gráficas mais robustas, arquiteturas mais modernas substituíram os antigos sistemas baseados em MS-DOS. Os botões "Turbo" desapareceram completamente dos gabinetes, se tornando apenas uma curiosidade histórica da evolução computacional.
Atualmente, controlar o desempenho da CPU ocorre por meio da própria BIOS, de perfis de energia no sistema operacional ou de ferramentas especializadas de gerenciamento de hardware. O que antes era feito com um clique no botão hoje depende de camadas complexas de software e firmware.
Uma lembrança nostálgica dos gabinetes antigos
Para muitos entusiastas da tecnologia, o botão "Turbo" permanece como um ícone nostálgico. Ele representa uma época em que era possível interagir fisicamente com partes internas do computador para ajustar performance conforme a necessidade, algo impensável no design limpo e fechado dos equipamentos atuais.
Mesmo sendo mal interpretado por muitos à época e depois praticamente esquecido, esse botão ilustra bem os desafios enfrentados na transição entre diferentes gerações de tecnologia. A sua história mostra como soluções criativas foram necessárias para lidar com a velocidade do progresso tecnológico — literalmente.