Poucos jogos da era dos 64-bits continuam chamando tanta atenção quanto Super Mario 64, mas mesmo quase três décadas após o lançamento, alguns de seus segredos ainda surpreendem. Um deles foi revelado recentemente por um youtuber, mostrando que o clássico da Nintendo possui um bug que pode deixar o jogador preso — literalmente — por anos.
Embora pareça algo impossível de acontecer na prática, o bug utiliza um contador numérico que alcança valores extremos ao longo do tempo. O resultado é um bloqueio não intencional, que exige paciência — e mais de quatro anos de espera — para ser superado.
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O enigma do softlock no menu de seleção
O erro foi identificado pelo canal Kaze Emanuar, conhecido por seus conteúdos aprofundados sobre Super Mario 64, onde bugs e limitações do título são frequentemente explorados. Neste caso específico, o problema está relacionado ao menu de seleção de estrelas, exibido antes de entrar em uma fase.
Conforme detalhado por Kaze, esse menu contém um pequeno temporizador oculto que regula quando uma estrela pode ser selecionada. Por padrão, ele conta até 12 quadrosantes de permitir a seleção. No entanto, o funcionamento desse sistema depende de números inteiros com sinal — despontando um risco incomum.
Quando o console ou emulador fica ligado com o menu aberto por aproximadamente 2,25 anos ininterruptos, esse contador atinge seu valor máximo possível (aproximadamente +2,147 bilhões). Ao ultrapassar esse limite, o número “estoura” e reinicia em seu valor negativo mínimo, criando uma espécie de softlock.
Como os números provocam o bug
Os sistemas digitais dependem de representações binárias para armazenar valores, o que impõe um limite sobre os tipos de dados que podem ser registrados. No caso deste bug, o contador utilizado é um inteiro com sinal de 32 bits. Esse tipo de variável tem como limite superior o valor 2.147.483.647. Após chegar nesse número, ele retorna ao menor valor possível: -2.147.483.648.
A falha só se manifesta porque a seleção de estrelas exige que o contador esteja entre 0 e 12para responder aos comandos do jogador. Após o estouro para negativo, o sistema continua aumentando gradualmente — começando do valor mínimo negativo — até que consiga alcançar novamente um número dentro dessa faixa.
Porém, para o contador voltar a essa janela aceitável (de -2,147 bi até 12), seriam necessários outros 2,25 anos de contagem contínua, considerando que ele avança quadro a quadro, ou seja, a 30 ou 60 quadros por segundo dependendo da configuração do jogo.
Por que esse problema é praticamente irrelevante
Apesar de curioso, é quase nula a chance desse bug acontecer em condições normais. Nunca houve registros de jogadores que mantiveram o console ligado continuamente por anos apenas olhando para o menu do jogo. E mesmo se tentassem, problemas como quedas de energia, instabilidade no hardware e superaquecimento tornariam essa tarefa praticamente inviável no mundo real.
Por isso, trata-se de uma curiosidade técnica, sem impacto direto sobre a experiência do usuário médio. No entanto, esse tipo de descoberta serve para mostrar quão profundamente o jogo foi analisado por comunidades de speedrunning e entusiastas de engenharia reversa.
O fascínio por bugs extremos e comportamentos ocultos
Esses tipos de falhas em Super Mario 64 continuam alimentando uma rica cultura exploratória entre os fãs. Alguns jogadores testam propositalmente os limites do jogo, seja através de modificações, seja por meios legítimos, tudo com o intuito de entender como o código reage a situações raras.
Outros exemplos semelhantes em jogos antigos envolvem contadores de tempo ou pontuação que também estouram ao atingirem seus máximos — nos computadores antigos, por exemplo, isso causava travamentos à meia-noite do “bug do milênio”. Em Super Mario 64, esse problema permanece escondido justamente por demandar uma espera absurda.
Por mais improvável que seja, a revelação de falhas como essa mostra o nível de minuciosidade técnica alcançado por algumas comunidades online. Mais do que um erro de programação, trata-se de um lembrete do quanto os softwares são limitados por suas estruturas básicas de dados — algo muitas vezes imperceptível durante a jogabilidade comum.