Hollow Knight: Silksong começa com um ritmo notavelmente mais intenso do que seu antecessor, colocando os jogadores diante de desafios complexos desde os primeiros minutos. A personagem Hornet, mais rápida e ágil que o Cavaleiro original, apresenta um estilo de combate mais ofensivo e dinâmico.
Com isso, o novo título da Team Cherry estabelece paralelos evidentes com Bloodborne, da FromSoftware – não apenas na ambientação sombria e gótica, mas também na forma como subverte mecânicas herdadas para criar algo instigante e ousado.
O que você vai ler neste artigo
Similaridades temáticas e visuais com Bloodborne
A ambientação de Silksong em Pharloom transborda de referências ao universo de Bloodborne. Locais como Shellwood evocam o labirinto sinistro da Floresta Proibida, enquanto a arquitetura e disposição urbana de Greymoor remetem às ruas decadentes de Yharnam. Esse intercâmbio visual não é coincidência.
Elementos de design, como inimigos encapuzados, assuntos envolvendo parasitas e temas de nascimento corrompido, aproximam Silksong das ideias apresentadas pela Igreja da Cura – facção central em Bloodborne que manipula poder através do sangue. A própria Twisted Bud, item essencial entregue para a NPC Greyroot, remete ao choro de Mergo, entidade infantil e invisível da área Nightmare of Mensis.
Silksong introduz mudanças sutis, mas assumidamente estratégicas, no sistema de cura. Hornet pode restaurar até três máscaras de vida de uma só vez – diferente do Cavaleiro, que curava uma por vez. No entanto, essa ação só é possível com o medidor completamente carregado.
Essa modificação obriga os jogadores a adotarem um comportamento mais ofensivo, já que o medidor é preenchido com ataques consecutivos. À semelhança do sistema de “rally” em Bloodborne, em que o jogador recupera vida ao retaliar após ser atingido, Silksong recompensa a agressividade. Jogadores conservadores, acostumados a curar defensivamente em Hollow Knight, sentirão o impacto da mudança.
Abordagens distintas de jogabilidade
Comparado ao estilo metódico do primeiro título, Silksong adota uma fórmula que exige mais reflexo instantâneo do que planejamento. Isso transforma confrontos em duelos mais rápidos e viscerais. A agilidade da protagonista se traduz não apenas em batalha, mas também no design das fases, que incentivam movimentação fluida e precisa.
Além disso, a introdução de novas habilidades como corrida contínua, pulo supercarregado e um dash aéreo adicional amplia as possibilidades de movimentação e exploração — algo que lembra a transição entre os soldados de armadura pesada de Dark Souls para os caçadores velozes de Bloodborne.
Narrativa e ambientação sombria
Silksong, assim como Bloodborne, cena um mundo chamado a perecer por uma doença enraizada em poderes profanos. A “thread sickness” aflige os habitantes de Pharloom de modo semelhante à praga de bestas em Yharnam. Ambas as narrativas giram em torno da corrupção causada por ambição desmedida — seja pelo sangue ou pelos fios de seda da Citadel.
Personagens misteriosos, como o Hermit, reforçam a natureza existencial da jornada. Em um diálogo crucial, ele questiona Hornet sobre sua integridade frente ao poder de um parasita que suga lentamente sua essência: “Deste teu casco a algo maior?”. A frase ecoa o dilema recorrente em Bloodborne — o que se sacrifica para alcançar o clarão do conhecimento ou alcançar o poder dos Antigos?
Estrutura de níveis e curva de dificuldade
Diferentemente do início gentil dos Cruzamentos Esquecidos, Silksong mergulha os jogadores diretamente no caos do Marrow — uma escolha de design semelhante à intensidade inicial de Central Yharnam. Por isso, o jogo exige domínio da movimentação desde os primeiros momentos, punindo quem tenta abordá-lo com a mentalidade do jogo anterior.
A nova distribuição dos chefes antecipa desafios que, em Hollow Knight, surgiriam apenas na metade da experiência. Um exemplo é o mini-chefe Skull Ant, que testa imediatamente o aproveitamento estratégico das novas habilidades de Hornet. Falhas no uso de dash ou super jump tornam o combate longo e punitivo.
Combate mais ágil, sem abrir mão da complexidade
Hornet é naturalmente mais rápida, salta mais alto, corre com leveza e possui maior alcance de ataque. Essa mudança redefine os fundamentos do combate. Agora, a fluidez ganha espaço sobre o peso. Isso não reduz a dificuldade – só a transforma. Inimigos como Gloomchain e Glassguard possuem ataques mais rápidos, causam dano duplo e forçam reposicionamentos em tempo real.
Mesmo com essas vantagens, o jogador precisa lidar com novas limitações. Habilidades como o pulo diagonal (pogo) exigem posicionamento quase cirúrgico. Já o super jump cria uma trajetória fixa difícil de corrigir durante o uso. Em termos práticos, não há espaço para má execução — cada erro custa caro, como nos duelos de Bloodborne.
Equilíbrio entre criatividade e entrincheiramento
Apesar das semelhanças notórias com Bloodborne, Silksong mantém identidade própria ao rejeitar a simples repetição. Enquanto o jogo da FromSoftware se ancora no horror cósmico, Silksong se inspira em fábulas trágicas e no simbolismo da metamorfose. A estética entomológica, a diversidade de biomas e o lirismo de personagens como Grindle ou Pale Messenger contribuem para uma assinatura exclusiva.
Por isso, mesmo os jogadores que identificam traços de FromSoft no jogo da Team Cherry terminam cativados por uma atmosfera que vai além. O que aproxima os títulos é a forma engenhosa com que redesenham suas bases — não o desejo de serem indistintos.
Conclusão
A transição de Hollow Knight para Silksong é comparável à reformulação que Bloodborne promoveu em relação à série Souls. Ambas as sequências aperfeiçoam o legado anterior ao ampliar agressividade, fluidez e complexidade de mecânicas já conhecidas. Ao mesmo tempo, demonstram que mudança de ritmo pode ser risco calculado.
Se Hollow Knight foi o Dark Souls dos Metroidvanias, Silksong é, com autoridade, seu Bloodborne: mais ágil, feroz, surpreendente — e implacavelmente inesquecível.
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