Apesar de seu estilo rígido, frio e visualmente controlado, Stanley Kubrick revelou uma preferência cinematográfica inusitada. Em uma rara declaração citada por sua biografia, o lendário diretor classificou um musical como o melhor filme que já assistiu em sua vida.
A obra em questão é All That Jazz – O Show Deve Continuar, longa dirigido por Bob Fosse em 1979. A escolha surpreende, considerando que o filme traz um dinamismo caótico bem distante da estética meticulosamente calculada de Kubrick.
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A admiração de Kubrick por All That Jazz
Conhecido pelo perfeccionismo absoluto, Stanley Kubrick frequentemente levava seus filmes e seus atores aos limites da exaustão física e emocional. Com apenas 13 longas-metragens produzidos ao longo de quase meio século, obras como Laranja Mecânica, O Iluminado e 2001: Uma Odisseia no Espaço marcaram época.
Entretanto, o musical autobiográfico protagonizado por Roy Scheider chamou profundamente sua atenção. Segundo a biografia escrita por John Baxter, Kubrick descreveu All That Jazz como "o melhor filme que já vi". Ainda que a citação careça de maiores explicações, tal declaração espelha o impacto emocional que a obra teve sobre o cineasta.
No longa, Joe Gideon é um coreógrafo e diretor dividido entre demandas profissionais, crises pessoais e problemas de saúde. A linha tênue entre vida e morte se dissolve em sequências musicais intensas e visuais surrealistas, que, além de estilo, carregam densas camadas psicológicas.
Um contraste aparente, mas essencial
A escolha de All That Jazz como filme favorito de Kubrick pode parecer incompatível à primeira vista. Seu autor, Bob Fosse, constrói aqui uma obra repleta de movimento, brilho e caos — o oposto das composições simétricas e frias que marcaram os filmes de Kubrick. Entretanto, ao observar mais profundamente, surgem traços em comum.
Kubrick sempre valorizou obras com tensão psicológica, conflitos internos intensos e estrutura narrativa complexa. All That Jazz é exatamente isso sob uma camada distinta: os dilemas do protagonista são relatados por coreografias que expressam sua culpa, fragilidade e obsessão.
Apesar de não ser um musical tradicionalmente feliz ou leve, o longa se destaca por sua visão crua e filosófica sobre a vida, o fracasso e a morte — temas também recorrentes nos filmes de Kubrick, ainda que expressos de outras formas.
Influências e gosto cinematográfico peculiar
Stanley Kubrick era um espectador atento que consumia obras de estilos variados. Mesmo sendo um mestre da rigidez estética, ele surpreendia com suas preferências. Seus filmes favoritos incluíam títulos como:
- Mary Poppins, que ele assistiu ao menos três vezes, conforme relatos.
- O suspense de terror Um Lobisomem Americano em Londres, de John Landis.
- Comédias como O Sem-Vergonha, estrelado por Steve Martin, ator que ele cogitou para o papel principal em De Olhos Bem Fechados.
- Filmes de diretores consagrados como Bergman, Tarkovsky, Kurosawa e Max Ophüls.
Esta diversidade reflete não apenas o olhar técnico de Kubrick, mas também sua abertura para narrativas que desafiavam estruturas convencionais ou mergulhavam fundo nas nuances humanas.
A relevância de All That Jazz até hoje
Vencedor de quatro Oscars e fortemente baseado na vida e nos conflitos do próprio Bob Fosse, All That Jazz conquistou a crítica, mas nunca atingiu um status de clássico absoluto. Mesmo assim, permanece como uma obra artística potente, de forte impacto visual e emocional.
A narrativa é entrelaçada com símbolos e reflexões sobre a mortalidade, o narcisismo e a pressão criativa, o que pode ter ecoado de maneira profunda em Kubrick — ele próprio um artista obcecado com controle e entrega total aos seus projetos.
E ainda que seu cinema jamais tivesse lugar para cantos ou coreografias, a maneira como All That Jazz representa o fracasso humano através da arte certamente contribuiu para que o mestre do perfeccionismo o colocasse em um pedestal tão alto.
Uma escolha que diz muito
Stanley Kubrick nunca foi um diretor de explicações fáceis. Seu fascínio por uma produção tão distinta quanto All That Jazz não precisa necessariamente de justificativa clara. A escolha diz mais sobre a complexidade de seu olhar do que sobre os limites de uma categoria cinematográfica.
No fim, sua admiração pelo musical de Bob Fosse reafirma uma verdade essencial: os grandes cineastas também se encantam com aquilo que os desafia — estética, narrativa ou espiritualmente. E entre todas as obras que viu, foi esta que, paradoxalmente caótica e profundamente humana, recebeu dele o mais alto elogio.
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