Apesar de frequentemente comparado à Disney, Hayao Miyazaki já deixou claro que essa analogia não o agrada. Ele vê diferenças fundamentais entre sua abordagem como diretor e o papel que Walt Disney exerceu na indústria da animação.
Em entrevista, o criador do Studio Ghibli explicou que enxerga grandes limitações nas obras do famoso estúdio americano. Para ele, o foco em sentimentalismo simplista é um dos principais problemas da Disney.
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Por que Hayao Miyazaki rejeita as comparações com Disney
Enquanto a Disney é celebrada por suas produções de alto orçamento e grande apelo comercial, Miyazaki enxerga seu próprio trabalho como algo mais artesanal e com maior profundidade emocional. Segundo o diretor japonês, a ligação feita entre o Studio Ghibli e a “Disney do Japão” ignora a natureza do seu processo criativo.
Isso fica evidente pela maneira como Miyazaki se vê na indústria: “Walt Disney é um produtor, não é? Eu sou um animador em campo, ou um diretor”, comentou em entrevista após o sucesso inicial de Princesa Mononoke. A comparação, portanto, parece desconsiderar o comprometimento direto do cineasta com cada detalhe de suas histórias.
Além disso, Miyazaki já revelou que conheceu alguns dos lendários Nove Anciões da Disney, animadores veteranos que moldaram o estúdio norte-americano entre as décadas de 1930 e 1970. Apesar de admirá-los como artistas, o diretor deixa evidente que sua inspiração vem de outras fontes menos evidentes no Ocidente.
As diferenças no modo de contar histórias
Miyazaki acredita que as animações devem aprofundar as emoções e os conflitos humanos, algo que ele não encontra de forma satisfatória nos filmes da Disney, principalmente os antigos. Embora reconheça a importância técnica de obras como Branca de Neve, Fantasiae Pinóquio, ele considera que esses clássicos tratam os sentimentos das personagens de maneira "simples e pouco agradável".
Para contrapor esse modelo, o diretor japonês cita obras como The King and the Mockingbird(França), The Snow Queen(União Soviética) e The Tale of the White Serpent(Japão), animações que ele classifica como retratos mais autênticos do "coração humano".
Segundo Miyazaki, essas produções o comoveram profundamente e o fizeram enxergar a animação como a melhor forma de expressar a complexidade emocional.
O realismo emocional como marca do Studio Ghibli
Ao contrário da Disney, que costuma trabalhar com uma estrutura narrativa mais maniqueísta e finais previsíveis, os filmes do Studio Ghibli se destacam por revelar emoções ambíguas e dilemas morais realistas. Em obras como A Viagem de Chihiroe O Túmulo dos Vagalumes, sentimentos como tristeza, perda, amadurecimento e solidão são retratados com uma sensibilidade rara no cinema de animação.
Essa abordagem surgiu justamente da recusa de Miyazaki em seguir os padrões estabelecidos por Hollywood. Para ele, a beleza da animação está na sua capacidade de expressar o que é intangível, e não necessariamente no que é visualmente mais chamativo ou moldado para o sucesso comercial.
Cenário japonês e a rejeição ao live-action
Outro ponto que ajuda a reforçar o distanciamento entre o Studio Ghibli e a Disney é a total ausência de adaptações live-action por parte de Miyazaki. Enquanto a Disney explora esse formato constantemente, o diretor japonês nunca se interessou por esse tipo de produção.
Em uma declaração direta, ele afirmou que existem poucos bons atores no Japão, criticando também as câmeras usadas nas produções japonesas, que, segundo ele, se tornaram muito “sem graça”. Essa crítica reforça sua convicção de que a animação permite uma liberdade narrativa e estética impossível de alcançar em live-actions.
A influência fora do eixo Disney
Embora o legado de Walt Disney tenha sido central para a popularização da animação no século XX, Miyazaki aponta influências que fogem do eixo mainstream. Ele se sente mais representado por obras que resgataram narrativas locais e exploraram temas universais sem perder o realismo emocional.
Mesmo que seus filmes não sigam o modelo de sucesso hollywoodiano, o impacto cultural do Studio Ghibli é inegável. Em muitas produções contemporâneas – inclusive naquelas indicadas ao Oscar – é possível identificar traços da linguagem criada pelo estúdio japonês.
Ainda que a comparação com a Disney continue sendo comum entre o público e a mídia, Hayao Miyazaki reafirma sua independência artística sempre que tem a oportunidade. Para ele, animação deve ser mais do que entretenimento visual: deve ser uma porta para o entendimento humano.
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