A controvérsia por trás do icônico beijo da 2ª Guerra Mundial

No dia em que a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim, uma imagem marcante capturou o alívio coletivo e a euforia dos americanos. Um marinheiro beijando uma mulher de branco em plena Times Square se tornou símbolo desse momento histórico. Porém, por trás da celebração expontânea, a verdade da fotografia esconde aspectos controversos que desafiam a interpretação romântica do passado.

Ao longo dos anos, a foto conhecida mundialmente como “O Beijo” revelou camadas inesperadas, desde a identidade real dos retratados até os debates sobre consentimento. O que parecia um retrato puro da vitória, carrega questões sociais e humanas que ainda ecoam mais de sete décadas depois.

O contexto histórico da imagem famosa

Capturada em 14 de agosto de 1945, conhecido como V-J Day (Dia da Vitória sobre o Japão), a foto foi tirada por Alfred Eisenstaedt para a revista Life. Entre milhares que saíram às ruas, o momento foi imortalizado em meio a beijos e abraços espontâneos, muitos entre desconhecidos. A euforia era tamanha que gestos antes impensáveis surgiram em um misto de alívio e exaustão.

Nova York, naquele dia, foi palco de uma catarse coletiva. O anúncio do fim da guerra despertou demonstrações públicas de afeto, num contraste direto ao medo e dor dos anos anteriores. Nesse cenário, a imagem ganhou status de ícone, reproduzida em jornais, selos e monumentos.

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Identificação dos protagonistas

Durante décadas, a identidade dos envolvidos na fotografia foi tema de especulação. A mulher havia sido tida como uma enfermeira pela vestimenta branca, enquanto o marinheiro permaneceu sem nome oficial. Diversas pessoas se apresentaram como os protagonistas, e a revista Lifeabriu investigações para tentar identificar os verdadeiros personagens.

Após longas análises e comparações faciais, os mais amplamente aceitos como os protagonistas da foto são George Mendonsa, marinheiro da Marinha dos EUA, e Greta Zimmer Friedman, assistente de consultório odontológico que usava uniforme branco. Ambos confirmaram sua presença em Times Square naquele dia e estiveram por décadas ligados à narrativa da imagem.

Consentimento ou celebração?

À medida que debates em torno de consentimento e assédio avançaram na sociedade, a imagem também passou a ser analisada sob outro viés. Embora por muitos anos seja vista como representação do amor e da paz reconstruída, a própria Greta afirmou em diversas entrevistas que sequer conhecia o homem e que o beijo foi uma ação inesperada.

Ela relatou que foi beijada sem permissão e agarrou-se por reflexo. Greta não considerou a situação traumática, mas também nunca descreveu o episódio como romântico. Isso abriu um novo olhar sobre uma imagem outrora tida como inquestionável, mostrando como símbolos também carregam ambiguidade.

George Mendonsa e a polêmica interpretação

Ao ser identificado, George Mendonsa relatou que havia bebido antes da comemoração e que o gesto foi consequência do êxtase emocional. Ele estava acompanhado de sua futura esposa, que inclusive aparece desfocada em outra parte da imagem. Sua narrativa apresentou o beijo como impulso jubiloso, algo que hoje suscita dúvidas sobre os limites entre espontaneidade e invasão de espaço.

Essa linha de discussão ganhou ainda mais força na última década, levando a protestos e reinterpretações do gesto, principalmente à luz dos debates sobre assédio em ambientes públicos. O caso se tornou exemplo em cursos de mídia e ética jornalística sobre como interpretar os símbolos históricos com criticidade.

Representações culturais e perpetuação do mito

“O Beijo” deixou de ser apenas uma fotografia e tornou-se escultura, capa de revista e peça simbólica de inúmeros produtos culturais. Ganhou uma estátua em San Diego, a “Unconditional Surrender”, que também gerou protestos por representar, segundo críticos, um ato não consentido mascarado como romantismo.

Campanhas feministas e movimentos sociais passaram a revisitar o símbolo, questionando o papel das mulheres em narrativas de celebrações que as posicionam como receptoras passivas de gestos masculinos. A leitura crítica não desvaloriza o contexto emocional do pós-guerra, mas convida à reflexão sobre como a história é contada.

Por que essa imagem ainda importa?

Mesmo com novas interpretações, o impacto visual da fotografia permanece. Ela encapsula um momento único da história, onde milhões retomaram a esperança. No entanto, o estudo mais profundo de seu contexto mostra como ícones podem ser lidos de formas diferentes conforme mudam os valores sociais.

A fotografia do beijo na Times Square permanece como uma das mais emblemáticas do século XX. Porém, hoje ela também serve como alerta sobre como devemos observar o passado não apenas pelos olhos da emoção, mas com senso crítico e empatia. Seja pela alegria do fim da guerra ou pelo incômodo de um gesto sem consentimento, a verdade por trás dessa imagem continua gerando debates legítimos e necessários.

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