Bethesda Softworks atravessou transformações profundas desde os anos 1990, e Pete Hines esteve presente em praticamente todas elas. Após 24 anos na empresa, o ex-diretor de marketing acompanhou sua evolução de um estúdio pequeno para um dos pilares do Xbox.
Com uma trajetória que inclui jogos como Morrowind, Skyrim e Fallout 76, Hines compartilha em entrevista suas lembranças mais marcantes, desafios enfrentados e a inevitável mudança cultural após a aquisição pela Microsoft.
O que você vai ler neste artigo
A ascensão de Bethesda nos anos 2000
Ao ingressar na Bethesda em outubro de 1999, Pete Hines se deparou com uma empresa modesta, porém ambiciosa. Nesse período, a Bethesda não era o gigantesco conglomerado conhecido atualmente, mas sim uma companhia privada onde predominalmente a cultura familiar e colaborativa moldava o ambiente de trabalho.
Durante os anos seguintes, a produtora experimentou saltos significativos. O marco inicial dessa escalada veio com The Elder Scrolls III: Morrowind (2002), seguido pela consagração definitiva com Skyrim (2011). Esses títulos consolidaram a Bethesda Game Studios como referência em RPGs de mundo aberto, focados na narrativa emergente e liberdade do jogador.
Ao lado do fundador da ZeniMax Media, Robert Altman, Hines ajudou a estabelecer a filosofia da empresa com foco em criatividade e autonomia. Segundo ele, Altman tratava os colaboradores “como família”, reforçando um ambiente interno que era tanto profissional quanto afetivo.
O impacto da aquisição pela Microsoft
Em 2021, a Microsoft concluiu a compra da ZeniMax Media por US$ 7,5 bilhões, integrando Bethesda a seu ecossistema de estúdios do Xbox. Essa mudança impactou não apenas a estrutura organizacional, mas também o papel estratégico das subsidiárias da companhia, incluindo nomes de peso como:
- Bethesda Game Studios (The Elder Scrolls, Starfield)
- id Software (Doom)
- Arkane Studios (Dishonored, Deathloop)
- MachineGames (Wolfenstein)
- ZeniMax Online Studios (The Elder Scrolls Online)
Apesar das promessas de independência criativa garantidas na época da aquisição, mudanças profundas logo começaram a se refletir no cotidiano dos estúdios. A exigência por resultados mais imediatos, metas centradas em assinaturas do Game Pass e um aumento da burocracia passaram a ser cada vez mais presentes na dinâmica corporativa.
Fechamentos e reestruturações recentes
Em 2024, novas controvérsias envolveram o conglomerado. A Xbox anunciou o fechamento de dois estúdios essenciais sob a bandeira da Bethesda:
- Arkane Austin, responsável por Redfall
- Tango Gameworks, desenvolvedora de Hi-Fi Rush
A decisão surpreendeu não só a comunidade gamer, mas também os próprios funcionários, revelando o peso das prioridades corporativas na nova fase de Bethesda. Mesmo com o sucesso crítico de jogos como Hi-Fi Rush, as mudanças estruturais evidenciaram que o desempenho criativo por si só não era mais suficiente para garantir a sobrevivência de um estúdio dentro do sistema Microsoft.
Mais tarde, a Tango Gameworks foi adquirida pela Krafton, empresa sul-coreana conhecida por PUBG. Ainda assim, conforme declarações oficiais, não havia perspectiva de retorno imediato sobre investimentos como uma possível sequência de Hi-Fi Rush.
Mudanças culturais e fim de uma era
Para Pete Hines, a Bethesda do início dos anos 2000 e a que existe hoje são entidades diferentes. Em suas palavras, “não há dúvidas de que a empresa não é mais a mesma”. Após a morte de Robert Altman em 2021 e sua saída em 2023, o último elo direto com o período mais intimista do estúdio se rompeu.
Uma de suas declarações mais enfáticas diz respeito à mágica que existia quando a empresa ainda era privada: “Era muito mais fácil evitar escrutínio quando você não precisava divulgar relatórios financeiros para o mundo todo”, lembrou.
Mesmo com os novos aportes e escala global proporcionados pelo Xbox, Hines destacou que os momentos mais memoráveis de sua carreira foram os dias de cooperação próxima com Altman e a sensação de liberdade criativa quase intacta.
Desafios e decisões polêmicas
Mesmo durante sua gestão, Hines admite erros. Entre eles, citou o lançamento conturbado de Fallout 76 e a polêmica decisão de nomear o jogo “Prey” lançado em 2017, usando uma marca já associada ao título original de 2006 que pouco tinha a ver com a nova proposta da Arkane Studios.
Refletindo sobre as recentes transformações da indústria, ele também se demonstrou cético quanto à sustentabilidade de programas como o Game Pass sem um planejamento adequado de suporte aos desenvolvedores.
Outro ponto debatido envolve a inevitabilidade dos problemas técnicos nos jogos da Bethesda. Segundo veteranos da empresa, títulos como Starfield, Fallout e Elder Scrolls sempre terão telas de carregamento devido ao escopo massivo e quantidade de sistemas interdependentes — uma espécie de compromisso técnico com a ambição dos projetos.
O legado e o futuro incerto
Mesmo longe da companhia, Pete Hines segue como uma das vozes mais respeitadas para entender a trajetória e as transformações da Bethesda. Seu relato oferece uma perspectiva rara sobre os bastidores da indústria de jogos e expõe os efeitos que aquisições e reestruturações corporativas têm sobre pessoas, estúdios e suas criações.
Para muitos fãs, resta a esperança de que a herança da Bethesda possa ser preservada mesmo sob novas lideranças e estruturas. Afinal, seu impacto na cultura gamer — com mundos vastos, histórias complexas e personagens inesquecíveis — continua reverberando em milhares de jogadores ao redor do mundo.
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