MindsEye teve uma recepção inicialmente empolgante com trailers chamativos e promessas de uma aventura de ação futurista reminiscente de clássicos como GTA e Mafia. Porém, ao longo de sua campanha de cerca de 10 horas, revela-se um projeto ambicioso demais para sua capacidade de entrega.
Apesar da ambientação futurista e visual interessante, o jogo falha em praticamente todos os aspectos fundamentais — da jogabilidade às missões entediantes, passando por problemas técnicos severos e combatentes robóticos pouco desafiantes.
O que você vai ler neste artigo
Ambientação promissora, mas desperdiçada
MindsEye se passa na cidade fictícia de Redrock, inspirada em Las Vegas, combinando edificações convencionais com avanços tecnológicos futuristas. Casas suburbanas e centros comerciais coabitam com drones, carros elétricos e robôs de segurança — uma composição visual cativante e, por vezes, até plausível.
A construção estética oferece veículos que parecem derivados de modelos atuais, com projeções futuristas aceitáveis. Isso proporciona ao mundo um toque autêntico e coeso, mesmo nos momentos mais fantasiosos.
Dirija bem, mas apenas no caminho que o jogo determina
A dirigibilidade é um dos poucos pontos altos. Os carros respondem com precisão e peso, permitindo curvas em alta velocidade com mais naturalidade do que muitos títulos semelhantes. Isso o diferencia de clones genéricos de GTA que contam com mecânicas superficiais.
Contudo, o valor dessas mecânicas é diluído por um design de missões extremamente restritivo. Todas as tarefas seguem a mesma estrutura:
- Dirigir um veículo pré-designado até um ponto no mapa
- Assistir a uma cutscene
- Eliminar inimigos em um confronto simples
- Repetir
A ausência de liberdade — característica tão valorizada em mundos abertos — frustra. Veículos alternativos não estão à disposição, e sair do trajeto previamente definido acarreta em falhas de missão. Além disso, ações típicas de jogos similares, como roubar carros ou provocar tumultos para chamar atenção da polícia, simplesmente não existem aqui.
Combates travados e inteligência artificial irrelevante
O sistema de combate é outro ponto fraco evidente. As batalhas, seja contra humanos ou robôs, raramente oferecem desafio. Os inimigos reagem de forma errática e pouco estratégica:
- Alguns humanos se escondem atrás de coberturas
- Outros caminham lentamente na sua direção, sem atacar
- A maioria apresenta reações tardias mesmo quando você os confronta de perto
Apesar da possibilidade de atirar em partes específicas dos robôs para desarmá-los, esse recurso é raramente aproveitado. As armas surgem no inventário sem destaque, e poucas exigem qualquer adaptação tática.
Drone salva (alguns) momentos
A única mudança de ritmo ocorre quando o protagonista Jacob Diaz obtém acesso total ao seu drone de companhia. Com ele, é possível disparar granadas e converter robôs inimigos em aliados temporários. Esse artifício dá certo frescor às fases finais, mas também acaba facilitando demais os combates.
Mesmo assim, a limitação da IA e o desequilíbrio das habilidades tornam a experiência pouco divertida. A sensação é de que o jogador está apenas executando comandos, sem nunca ser desafiado a pensar ou improvisar.
Problemas técnicos sérios
Mesmo rodando em um PC de ponta (RTX 4080 e Intel Core Ultra 9 185H), MindsEye apresenta performance decepcionante:
- Quedas bruscas e persistentes de fps
- Travamentos durante perseguições de carro
- Fantasmas visuais e stutters em cutscenes
- Texturas carregadas de forma incompleta
Esses problemas ocorrem mesmo com as configurações ajustadas para priorizar desempenho. Além disso, a instabilidade gráfica é especialmente frustrante quando afeta momentos críticos de gameplay ou narrativa.
Curiosamente, há trechos visualmente impressionantes esporadicamente. A iluminação de Redrock ao pôr do sol ou os efeitos de uma explosão próxima são bem executados. Infelizmente, são exceções em um mar de inconsistências gráficas.
Missões lineares e ausência de conteúdo extra
A estrutura de missões é rígida e sem criatividade. Há pouquíssimo espaço para experimentação. O jogador é constantemente repreendido por sair do trajeto esperado, e a exploração praticamente não existe. Sem colecionáveis, objetivos secundários ou possibilidades de interação com o mundo, a cidade parece oca.
Não há rádios nos veículos, nem músicas licenciadas — algo básico em seu gênero. As interações são rasas e a progressão não recompensa a curiosidade. Diversão emergente, elemento vital de jogos no estilo de mundo aberto, simplesmente está ausente.
A sensação é de estar em um ambiente fake, montado unicamente como cenário, sem qualquer vida ou espontaneidade.
Final confuso e modo livre sem propósito
A conclusão da campanha é abrupta e pouco satisfatória. Muitas pontas da narrativa permanecem soltas, e o desfecho apresenta bem mais dúvidas que respostas. Em vez de encerrar com firmeza ou deixar um gancho instigante, o jogo opta por uma saída vaga e mal construída.
Após os créditos, o jogador é colocado em um “modo livre” inusitado. Controlando um personagem aleatório, sem qualquer introdução ou explicação, o jogador é solto no mundo. Mas:
- Não é possível roubar veículos
- Os ícones no mapa levam a confrontos simples, sem sentido
- Algumas mecânicas aparentemente funcionam, mas não resultam em nada concreto
- Não há objetivos ou orientação
Esse modo, que teoricamente ampliaria a longevidade do jogo, parece mais uma versão beta inacabada. O que poderia ter sido uma experiência complementar divertida se torna apenas mais uma frustração.
MindsEye é um exemplo claro de um jogo com boas ideias desperdiçadas por má execução. Sua ambientação futurista cativa visualmente, e o bom sistema de direção promete um início envolvente. Mas rapidamente, tudo se perde diante de missões genéricas, combate irrelevante, problemas técnicos crônicos e um mundo aberto que está lá apenas de fachada.
Mesmo com gráficos pontualmente impressionantes e um ou dois momentos criativos, o jogo não sustenta seu próprio peso. A narrativa desconexa, a falta de liberdade e a inexistência de propósito no pós-jogo tornam sua proposta vazia.
Para um título que se vende como novo expoente do gênero, MindsEye falha em praticamente tudo o que se propõe.
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