Sucesso da Pop Mart conquista o Ocidente

Enquanto as manchetes globais destacavam o avanço chinês nos carros elétricos e na indústria de baterias, outro fenômeno começou a ganhar força de forma quase silenciosa. Alimentado pelo colecionismo emocional e pelo apelo visual, o movimento conseguiu conquistar jovens consumidores no Ocidente.

A responsável por esse avanço é a Pop Mart, marca chinesa que transformou personagens coloridos e misteriosos em obsessão global. Com estratégias que combinam escassez, exclusividade e nostalgia, a empresa virou referência em cultura pop e consumo impulsivo.

Pop Mart: da China para o mundo

Fundada em Pequim e listada na bolsa desde 2020, a Pop Mart rapidamente se expandiu para além da Ásia. Sua fórmula? Escolher o momento certo, personagens marcantes e um modelo de vendas que mistura surpresa com estratégia digital. As chamadas Blind Boxes— caixas-surpresa onde o consumidor só descobre o personagem após a compra — viraram febre entre os jovens.

Em poucos anos, a marca abriu lojas físicas na França, Itália, Reino Unido e Holanda, sem contar as máquinas automáticas espalhadas em aeroportos e shoppings. Atualmente, a empresa mira € 1 bilhão em faturamento anual na Europa até 2027.

A fórmula secreta do sucesso

A principal aposta da Pop Mart gira em torno de três eixos: efeito surpresa, parcerias estratégicase uma cultura de escassez proposital. Ao transformar cada caixinha em uma experiência semelhante à de abrir um presente, a marca ativou gatilhos emocionais da Geração Z.

A multinacional chinesa colabora com grandes franquias como:

• Disney
• One Piece
• League of Legends
• Batman
• Harry Potter
• Coca-Cola

Os bonecos — como os famosos Labubu, que lembram monstros fofos — variam de US$ 15,90 a US$ 60, com versões mais raras sendo revendidas por até centenas de dólares. Há uma chance de 1 em 120de se conseguir um modelo extremamente raro, o que alimenta o desejo por coleções completas e exclusivas.

Um fenômeno nas redes sociais

Impulsionada por vídeos de unboxing, transmissões ao vivo e desafios em redes como Instagram, TikTok e YouTube, a marca se consolidou entre os jovens. O fator surpresa das Blind Boxes e o desejo de aquisição de todos os personagens de uma coleção contribuíram para a criação de uma comunidade internacional de fãs altamente engajada.

Dessa forma, nenhuma campanha tradicional de marketing se compara ao poder viral do colecionismo digital. Em 2025, o aplicativo da Pop Mart ultrapassou Amazon e Shein como o app de compras mais baixado nos EUA, segundo dados da App Store. O impacto direto foi visto no mercado financeiro: uma alta de 13% nas ações da empresa na bolsa de Hong Kong, levando seu valor de mercado a US$ 32 bilhões.

Produto ou estratégia de soft power?

Analistas apontam que o projeto da Pop Mart representa mais que uma tendência de mercado — trata-se de uma estratégia sofisticada de soft power cultural. Diferente de produtos industriais, os personagens da empresa carregam um impacto simbólico que transforma a China em um exportador global de estilo e comportamento.

Esse tipo de operação molda percepções culturais e posiciona a China como criadora de tendências. Ao invés de serem apenas consumidores de cultura pop ocidental, os jovens agora consomem conteúdos e produtos com origem estética e emocional chinesa— muitas vezes sem sequer perceber.

Um novo tipo de globalização

A ascensão da Pop Mart marca uma nova fase da globalização, na qual marcas orientais aprendem a seduzir o Ocidente não só pelo preço, mas pela experiência de consumo. Com isso, a China demonstra sua capacidade de competir em um campo onde antes dominavam empresas como Funko, Hasbro e LEGO.

Se o século XX firmou os EUA como centro da cultura pop global, movimentos como o da Pop Mart mostram que o século XXI pode ter múltiplos polos. A revolução não virá apenas dos carros elétricos — mas também de caixas pequenas, coloridas e surpreendentemente lucrativas.